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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Equações de Navier-Stokes

Nesta postagem apresentamos um resultado de existência e unicidade de solução fraca para as equações de Navier-Stokes num domínio limitado do plano. O material é proveniente de um seminário apresentado pelo autor (em parceria com um colega) em disciplina de doutorado na UFRJ.

1 Considerações iniciais

Em sua formulação clássica(i) o PVIF para as equações de Navier-Stokes completas(ii) é o seguinte:
Problema 1.1 (PVIF para Navier-Stokes). Sejam Ω um aberto de Rn e T>0. Dados uma constante ν>0, uma função vetorial f:Ω×[0,T]Rn e uma função vetorial u0:ΩRn, encontrar uma função vetorial u:Ω×[0,T]Rn e uma função escalar p:Ω×[0,T]R tais que
{utνΔu+(u)u=fpemΩ×(0,T),divu=0emΩ×(0,T),u=0emΩ×(0,T),u=u0emΩ×{0}.
Este sistema descreve a velocidade u e a pressão p de um fluído incompressível viscoso que possui viscosidade constante ν, preenche permanentemente uma região Ω do espaço e está sob a influência de uma força externa f.

Curiosidade: As seguintes questões referentes ao Problema 1.1 estão em aberto e valem um milhão de dólares:(iii)
  1. Existência de Solução. Considere o Problema 1.1 com n=3, Ω=R3, T=, f0 e u0 suave satisfazendo divu0=0 e |αxu0(x)|Cα,K(1+|x|)K, xRn,αN3,K>0. Mostre que existem uC(Ω×[0,);R3) e pC(Ω×[0,);R) satisfazendo (1.1)1,2,4 e R3|u(x,t)|2dx<C, t0.
  2. Não Existência de Solução. Considere o Problema 1.1 com n=3, Ω=R3 e T=. Mostre que existem f:R3×[0,)R3 suave satisfazendo |αxmtf(x,t)|Cα,m,K(1+|x|+t)K, xRn,t0,αN3,mN,K>0 e u0:R3R3 suave satisfazendo divu0=0 e (1.2) para os quais não existem uC(Ω×[0,);R3) e pC(Ω×[0,);R) satisfazendo (1.1)1,2,4 e (1.3).
Nesta exposição, vamos considerar o Problema 1.1 para n=2 e Ω limitado com fronteira regular. O objetivo será provar existência e unicidade de solução fraca. Todo o exposto está baseado em [4, 11, 12, 17].

2 Navier-Stokes em domínios limitados de R2

Em tudo o que segue, T>0 é um número real fixo (e finito), Ω é um aberto limitado de R2 com fronteira regular e ν>0 é uma constante.

2.1 Motivação para a formulação fraca

A versão clássica do problema que vamos considerar é a seguinte:
Problema 2.1 (Navier-Stokes no plano). Dados f:Ω×[0,T]R2 e u0:ΩR2, encontrar u:Ω×[0,T]R2 e p:Ω×[0,T]R tais que
{utνΔu+(u)u=fpemΩ×(0,T),divu=0emΩ×(0,T),u=0emΩ×(0,T),u=u0emΩ×{0}.
Escreva Q=Ω×(0,T). Suponhamos que, para uma função f=(f1,f2)C(ˉQ)×C(ˉQ), o Problema 2.1 possua uma solução (u,p) com u=(u1,u2)C2(ˉQ)×C2(ˉQ) e pC1(ˉQ).(iv) Note que a equação (2.1)1 se reescreve como
uitνΔui+2j=1ujuixj=fipxi,i=1,2.
Multiplicando por viD(Ω), integrando sobre Ω e mantendo implícita a dependência de t, segue que
(uit,vi)L2νΩviΔuidx+2j=1(ujuixj,vi)L2=(fi,vi)L2Ωpxividx.
Integrando por partes (e utilizando que vi se anula sobre Ω), obtemos
(uit,vi)L2+νΩviuidx+2j=1(ujuixj,vi)L2=(fi,vi)L2+Ωpvixidx.
Somando com respeito ao índice i, resulta que
2i=1(uit,vi)L2+ν2i=1Ωviuidx+2i,j=1(ujuixj,vi)L2=2i=1(fi,vi)L2+Ωpdivvdx,
onde v=(v1,v2). Supondo adicionalmente que divv=0, esta última igualdade se reduz a
2i=1(uit,vi)L2+ν2i,j=1(uixj,vixj)L2+2i,j=1(ujuixj,vi)L2=2i=1(fi,vi)L2.
Definindo
a(u,v)=2i,j=1(uixj,vixj)L2,b(u,w,v)=2i,j=1(ujwixj,vi)L2,
a expressão anterior pode ser reescrita como
(ut,v)+νa(u,v)+b(u,u,v)=(f,v),
onde (,) é o produto interno usual em L2(Ω)×L2(Ω). Escrevendo u(,t)=u(t), f(,t)=f(t) e tornando explícita a dependência de t na expressão anterior, obtemos
(ut(t),v)+νa(u(t),v)+b(u(t),u(t),v)=(f(t),v), t(0,T).
Estas considerações motivam a definição dos espaços funcionais, a definição das aplicações e a formulação fraca estabelecidas na seção seguinte.

2.2 Formulação fraca

Defina os espaços
V={vD(Ω)×D(Ω)divv=0},V=¯V[H1(Ω)]2,H=¯V[L2(Ω)]2.
Defina também a forma bilinear a:V×VR e a forma trilinear b:V×V×VR por
a(u,v)=2i,j=1(uixj,vixj)L2,b(u,w,v)=2i,j=1(ujwixj,vi)L2.
Note que a(,) é o produto interno usual em [H10(Ω)]2. A seguir, vamos considerar o seguinte problema:
Problema 2.2 (Formulação fraca). Dados uma função f:[0,T]V e um vetor u0H, provar que existe uma função uL(0,T;H)L2(0,T;V)(v) tal que, para todo vV,
{ddt(u(),v)+νa(u(),v)+b(u(),u(),v)=f(),vV×V em D(0,T),u(0)=u0.
Como antes, (,) representa o produto interno usual em [L2(Ω)]2. Note que (2.5)1 é uma versão mais fraca de (2.2). A função u deverá ter regularidade suficiente para que a condição (2.5)2 tenha sentido.

2.3 Preliminares

Nesta seção apresentaremos alguns resultados que serão necessários na seção seguinte. Começamos com dois resultados gerais.
Teorema 2.3. Seja {ej}jJ uma família ortonormal em um espaço de Hilbert H. São equivalentes:
(I) {ej}jJ é maximal (no sentido de inclusão de conjuntos).
(II) x=jJ(x,ej)ej para todo xH.
(III) x2=jJ|(x,ej)|2 para todo xH.
(IV) ¯span{ejjJ}=H.
Prova: Para (I) (II) (III) (I), ver [10] (Corolário 12.8, p. 532). A implicação (II) (IV) é imediata. Para (IV) (II) ver [3] (Corolário 5.10, p. 143).

Observação 2.4. No contexto do método de Galerkin, a "base" de um espaço normado separável X geralmente é definida como sendo uma família L.I. contável cujo espaço gerado é denso em X (a separabilidade do espaço garante a existência de tal família - ver Lema 4.1, p. 83, em [8]). Por outro lado, no contexto dos espaços de Hilbert, a "base" às vezes é definida como sendo uma família ortonormal maximal. Segue do Teorema 2.3 que, se X é Hilbert separável, então estes dois conceitos de base coincidem.  A seguir, a expressão "sistema ortonormal completo" será utilizada como sinônimo de "família ortonormal maximal".
Teorema 2.5. Sejam V e H espaços de Hilbert tais que VHHV, onde ambas as inclusões são contínuas e densas. Então,
W(a,b;V,V):={uL2(a,b;V)uL2(a,b;V)}C([a,b];H). Mais ainda, dadas u,vW(a,b;V,V), vale a fórmula de integração por partes
bau(t),v(t)V×Vdt=(u(b),v(b))H(u(a),v(a))Hbau(t),v(t)V×Vdt.
Prova: Ver [6] (teoremas 1 e 2, p. 473 e 477).

Agora, vejamos alguns resultados que se referem especificamente aos espaços e às aplicações definidas na seção precedente.
Lema 2.6. Os espaços V e H definidos em (2.3) possuem as seguintes propriedades:
(a) V e H são dados por(vi) V={w[H10(Ω)]2divw=0},H={w[L2(Ω)]2divw=0,(wN)|Ω=0}. (b) V e H com as normas induzidas de [H10(Ω)]2 e [L2(Ω)]2, respectivamente, são espaços de Hilbert separáveis.
(c) VHHV, onde ambas as inclusões são contínuas e densas.
(d) A inclusão VH é compacta.
Prova: (a) Ver [7] (Teoremas 4 e 6, p. 8 e 10) ou [11] (p. 67-68) ou [17] (Teoremas 1.4 e 1.6, p. 15 e 18). (b) Segue de V e H serem subespaços fechados de [H10(Ω)]2 e [L2(Ω)]2, respectivamente. (c) Ver [7] (p. 22) ou [17] (p. 248). (d) Ver [11] (Lema 6.8, p. 74).

Seja A:VV o operador associado à forma bilinear a(,), definida em (2.4). Então (ver [12], p. 15), A é uma bijeção linear contínua com inversa contínua que satisfaz
Au,vV×V=a(u,v), u,vV. Em particular, se uV é tal que AuH, então (Au,v)=a(u,v) para toda vV.
Lema 2.7. O espaço H definido em (2.3) possui um sistema ortonormal completo {wj}jN formado por autofunções do operador A. Mais ainda, se {λj}jN são os autovetores correspondentes, então:
(a) (v,wj)V=λj(v,wj) para todo vV.
(b) {wjλj}jN é um sistema ortonormal completo em V.
Prova: Defina X={uVAuH}. Das propriedades de A, segue que ˜A:=A|X é uma bijeção linear contínua com inversa ˜A1:HX contínua. Segue do item (d) do Lema 2.6 que ˜A1:HH é compacta. Mais ainda, ˜A1 é simétrica porque, dados f,gH,
(˜A1h,g)=(g,˜A1h)=(˜A˜A1g,˜A1h)=a(˜A1g,˜A1h)=a(˜A1h,˜A1g)=(˜A˜A1h,˜A1g)=(h,˜A1g). Segue do teorema espectral para operadores compactos autoadjuntos em espaços de Hilbert (Teorema 15.39, p. 673, em [9]) que H possui um sistema ortonormal completo {wj}jN formado por autovetores de ˜A1, associados a uma família {μj}jN de autovalores não nulos. Como este sistema coincide com as autofunções de A, a primeira afirmação está provada. O item (a) segue de um cálculo direto. Da parte já provada, o item (II) do Teorema 2.3 se verifica para ej=wj e H=H. Usando isto e o item (a), concluímos que o item (II) do Teorema 2.3 também se verifica para ej=wj/λj e H=V, onde λj=μ1j. Logo, o item (b) está provado.

Combinando o Teorema 2.3 como o Lema 2.7 concluímos que, para todo vV,
v2V=j=1|(v,wjλj)V|2=j=11λj|(v,wj)V|2=j=1λj|(v,wj)|2. Analogamente, usando (2.7) concluímos que, para todo hV,
A1h2V=j=1|(A1h,wjλj)V|2=j=11λj|a(A1h,wj)|2=j=11λj|AA1h,wjV×V|2=j=11λj|h,wjV×V|2.
Lema 2.8. A forma trilinear definida em (2.4) é contínua e, para quaisquer u,˜u,v,wV, satisfaz:
(a) b(u,w,v)=b(u,v,w).
(b) |b(w,w,u)|CwHwVuV.
(c) b(u,u,v)b(˜u,˜u,v)=b(u˜u,u,v)b(u˜u,u˜u,v)+b(u,u˜u,v).
Prova: (a) Ver [4] (Lemas 1 e 2, p. 126) ou [11] (Lema 6.5, p. 72) ou [12] (Lemas 1 e 3, p. 115 e 119) ou [17] (Lemas 1.2 e 1.3, p. 162 e 163). (b) Ver [4] (p. 155 e 156) ou [12] (p. 122) ou [17] (p. 293). (c) Ver [12] (Observação 3, p. 122).

Observação 2.9. Fixado (u,w)V×V, segue do Lema 2.8 que a aplicação vb(u,w,v) é um funcional linear contínuo. Logo, pelo Teorema de Representação de Riesz, podemos definir uma aplicação bilinear contínua B:V×VV satisfazendo B(u,w),vV×V=b(u,w,v) para quaisquer u,w,vV.
Lema 2.10. Se u,vL(0,T;H)L2(0,T;V), então existe uma constante positiva C tal que
B(u(t),v(t))VCu(t)1/2Vv(t)1/2V,q.s. em[0,T] e, consequentemente, B(u(),v())L2(0,T;V).
Prova: Ver [4] (Lema 4, p. 130) ou [12] (Lema 4, p. 120) ou [17] (p. 293).
Lema 2.11 (De Rham, Nečas). Sejm ΩR2 um aberto limitado com fronteira regular e S[H1(Ω)]2. Se
S,v[H1(Ω)]2×[H10(Ω)]2=0, vV, então existe uma única função PL2(Ω) com média nula satisfazendo S=P em [H1(Ω)]2 e verificando
PL2(Ω)aS[H1(Ω)]2,S[H1(Ω)]2bPL2(Ω), onde a e b são constantes positivas que dependem apenas de Ω.
Prova: Ver [2] (Proposição IV.1.7, p. 238, e Teorema IV.2.3, p. 242) ou [15] (Lema 2.2.2, p. 75) ou [17] (proposições 1.1 e 1.2, p. 14, e Nota 1.4, p. 15).

2.4 Existência e unicidade de solução fraca

O teorema a seguir resolve o Problema 2.2.
Teorema 2.12. Dados fL2(0,T;V) e u0H, existe uma única função uL(0,T;H)L2(0,T;V) com uL2(0,T;V) satisfazendo,(vii) para todo vV,
{ddt(u(),v)+νa(u(),v)+b(u(),u(),v)=f(),vV×V em D(0,T),u(0)=u0.
Prova:
  • Existência
PROBLEMA APROXIMADO

Seja {wj}jN a base de H dada pelo Lema 2.7. Para cada mN, defina Vm=span{w1,...,wm}. O primeiro passo é mostrar que, para cada mN e cada j=1,...,m, existem
{um(t)=mi=1gim(t)wjVm,u0mVm, satisfazendo o "problema aproximado"
{(um(t),wj)+νa(um(t),wj)+b(um(t),um(t),wj)=f(t),wjV×V q.s. em [0,T]um(0)=u0m,u0mmu0emH. Seja
u0m=mi=1(u0,wi)wi a projeção de u0=i=1(u0,wi)wi sobre Vm. Então (u0m) é uma sequência em H satisfazendo (2.13)2 e (2.14)3. Assim, substituindo (2.13)1 e (2.15) em (2.14)1,2, concluímos que resolver o problema aproximado equivale a resolver o seguinte sistema de EDOs com 1jm:
{gjm(t)+λjgjm(t)+mi,k=1b(gim(t),gkm(t),wj)=f(t),wjV×V q.s. em [0,T],gjm(0)=(u0,wj), onde λjR é o autovalor correspondente à autofunção wj. Pelo Teorema de Carathéodory, para cada mN o sistema (2.16), e por conseguinte o sistema de interesse (2.14), possui uma única solução local absolutamente contínua definida sobre um intervalo [0,tm]. A primeira estimativa feita a seguir garante que tal solução pode ser estendida ao intervalo [0,T].

1ª ESTIMATIVA

Multiplicando (2.14)1 por gjm(t) e somando com respeito a j, segue que
(um(t),um(t))+νa(um(t),um(t))+b(um(t),um(t),um(t))=f(t),um(t)V×Vf(t)Vum(t)V. Note que
(um(t),um(t))=12ddt|um(t)|2H,a(um(t),um(t))=um(t)2V,b(um(t),um(t),um(t))=0, onde na segunda igualdade usamos a definição de a(,) e, na terceira, usamos o Lema 2.8. Portanto, pela desigualdade de Young,
12ddt|um(t)|2H+νum(t)2VCεf(t)2V+εum(t)2V. Tomando ε suficientemente pequeno (de modo que νε>0), obtemos
ddt|um(t)|2H+um(t)2VC1f(t)2V. Integrando de 0 até t[0,tm], resulta de (2.14)2 que
|um(t)|2H+t0um(s)2Vds|u0m|2H+C1fL2(0,T;V). De (2.14)3, obtemos uma constante C (independente de tm) tal que
|um(t)|2H+t0um(s)2VdsC, t[0,tm]. Assim, a solução Ym=(g1m,...,gmm) do sistema (2.16) satisfaz
|Ym(t)|Rm=mi=1g2im(t)=(mi=1gim(t)wi,mk=1gkm(t)wk)=(um(t),um(t))=|um(t)|2HC para todo t[0,tm]. Isto implica que Ym, e por conseguinte a solução um de (2.14), pode ser estendida ao intervalo [0,T]. Uma vez que dispomos de uma solução definida sobre [0,T], podemos repetir os cálculos anteriores com T no lugar de tm e concluir que (2.17) vale com T no lugar de tm. Portanto,
(um)é limitada emL(0,T;H),(um)é limitada emL2(0,T;V).
2ª ESTIMATIVA

Como o operador ˜A:XH tem inversa simétrica (ver Seção 2.3), segue do item (a) do Lema 2.7 que
(A1h,g)V=λj(˜A1h,g)=λj(h,˜A1g)=(h,A1g)V, h,gH. Logo, por (2.8),
um(t)2V=AA1um(t)2VcA1um(t)2V=ci=11λj|(A1um(t),wj)V|2=ci=11λj|(um(t),A1wj)V|2=ci=11λ2j|(um(t),wj)V|2=cmi=11λj|(um(t),wj)|2=cmi=11λj|um(t),wjV×V|2. Escrevendo hm(t)=f(t)νAum(t)B(um(t),um(t)), segue de (2.14)1, (2.9) e (2.10) que
um(t)2Vcmi=11λj|hm(t),wjV×V|2=cA1hm(t)2Vc1hm(t)2Vc1(f(t)V+νAum(t)V+B(um(t),um(t))V)2c2(f(t)2V+um(t)2V+um(t)2V). Como fL2(0,T;V), segue de (2.19) que
(um)é limitada emL2(0,T;V).
PASSAGEM AO LIMITE

Resulta de (2.18), (2.19) e (2.20) que existe uL(0,T;H)L2(0,T;V) com uL2(0,T;V) tal que
umu emL(0,T;H),umu emL2(0,T;V),umuemL2(0,T;V). De (2.14)1 resulta que, para 1jm,
(um(),wj)+νa(um(),wj)+b(um(),um(),wj)=f(),wjV×V em D(0,T). Vejamos que
(um(),wj)ddt(u(),wj)a(um(),wj)a(u(),wj)b(um(),um(),wj)b(u(),u(),wj)}emD(0,T)(viii).
A seguir provaremos a terceira convergência, que envolve o termo não linear da equação (graças à linearidade, as duas primeiras convergência são obtidas de maneira mais simples e, por isso, omitiremos os detalhes). Das limitações (2.19) e (2.20), concluímos que
(um)é limitada emW:={gL2(0,T;V)gL2(0,T;V)}. Pelo Teorema de Aubin-Lions, WcL2(0,T;H) (aqui estamos usando os itens (b), (c) e (d) do Lema 2.6). Logo, passando a uma subsequência,
umuemL2(0,T;H). Consequentemente,
uimuiemL2(0,T;L2(Ω))L2(Q),i=1,2 onde Q=Ω×(0,T) (para detalhes sobre o isomorfismo acima, ver p. 24 em [13]). Resulta disto que, passando a uma subsequência,
uimukmuiukq.s. emQ,i,k=1,2. Como n=2, temos H10(Ω)L4(Ω) (ver Teorema 4.12, p. 85, em [1]). Consequentemente, L2(0,T;V)L2(0,T;[L4(Ω)]2) e
uimukm2L2=Ω|uim|2|ukm|2dx(Ω|uim|4dx)1/2(Ω|ukm|4dx)1/2=uim2L4ukm2L412uim4L4+12ukm4L4. Logo, de (2.19),
(uimukm)é limitada emL2(0,T;L2(Ω))L2(Q),i,k=1,2. De (2.27), de (2.28) e do Lema de Lions, segue que
uimukmuiukemL2(Q)L2(0,T;L2(Ω)),i,k=1,2. Isto implica que
T0(ukm(t)v(,t),uim(t))L2dt=QuimukmvdzQuiukvdz=T0(uk(t)v(,t),ui(t))L2dt para toda vL2(Q). Tomando v(x,t)=θ(t)ddxkwij(x) com θL2(0,T) e somando com respeito aos índices i,k, segue que
T0b(um(t),θ(t)wj,um(t))dxT0b(u(t),θ(t)wj,u(t))dx. Do Lema 2.8, obtemos
T0b(um(t),um(t),wj)θ(t)dtT0b(u(t),u(t),wj)θ(t)dt, θL2(0,T). A última convergência vale, em particular, para todo θD(0,T) e, portanto,
b(um(),um(),wj)b(u(),u(),wj)emD(0,T). Isto conclui a prova de (2.25). Assim, fixando jN e tomando o limite em (2.24) com m, concluímos que
ddt(u(),wj)+νa(u(),wj)+b(u(),u(),wj)=f(),wjV×VemD(0,T), jN. Multiplicando por 1λj, segue do item (b) do Lema 2.7 (e do Teorema 2.3) que vale (2.12)1.

CONDIÇÃO INICIAL

Já vimos que u pertence ao espaço W definido em (2.26). Logo, o Teorema 2.5 implica que uC([0,T];H) e, portanto, u(0) tem sentido. De (2.21) e (2.23),
T0(um(t),v(t))dtT0(u(t),v(t))dt, vL1(0,T;H),T0(um(t),z(t))dt=T0um(t),z(t)V×VdtT0u(t),z(t)V×Vdt, zL2(0,T;V). Tome θC1[0,T] tal que θ(0)=1 e θ(T)=0. Das últimas duas convergências com v(t)=θ(t)wj e z(t)=θ(t)wj segue que
T0(um(t),θ(t)wj)dtT0(u(t),θ(t)wj)dt=T0u(t),θ(t)wjV×Vdt, jN,T0(um(t),θ(t)wj)dtT0u(t),θ(t)wjV×Vdt, jN. Somando as duas últimas convergências, segue da fórmula de integração por partes (2.6) que
(um(0),wj)(u(0),wj), jN. Como span{wjjN} é denso em H (veja Teorema 2.3), segue de (2.14)2 e da última convergência que
(u0m,v)=(um(0),v)(u(0),v), vH. Mas, de (2.14)3,
(u0m,v)(u0,v), vH. Logo, vale (2.12)2 porque, pela unicidade do limite, as duas últimas convergências implicam que
(u(0),v)=(u0,v), vH.
REGULARIDADE EXTRA

A igualdade já provada (2.12)1 significa que, para quaisquer θD(0,T) e vV,
ddt(u(),v),θ+νa(u(),v),θ+b(u(),u(),v),θ=f(),vV×V,θ. Mas,
b(u(),u(),v),θ=T0b(u(t),u(t),v)θ(t)dt=T0B(u(t),u(t)),vV×Vθ(t)dt=T0B(u(t),u(t))θ(t),vV×Vdt=T0B(u(t),u(t))θ(t)dt,vV×V=B(u(),u()),θ,vV×V. Observe que na penúltima igualdade estamos usando o Lema 2.10, de acordo com o qual a integral que aparece dentro da dualidade está bem definida. Analogamente,
ddt(u(),v),θ=u(),θ,vV×Vνa(u(),v),θ=νAu(),θ,vV×Vf(),vV×V,θ=f(),θ,vV×V Logo, por (2.29),
u(),θ+νAu(),θ+B(u(),u()),θf(),θ,vV×V=0, θD(0,T),vV donde
u()+νAu()+B(u(),u())f(),θ=0emV, θD(0,T). Isto implica que
u()+νAu()+B(u(),u())f()=0emD(0,T;V). Por hipótese, f()L2(0,T;V). Já vimos que uL2(0,T;V) e uL2(0,T;V). Como A:VV é limitado, segue que Au()L2(0,T;V). Do Lema 2.10, B(u(),u())L2(0,T;V). Logo, a última igualdade vale em L2(0,T;V) e pode ser reescrita como
u()+νAu()+B(u(),u())=f()emL2(0,T;V) donde
u(t)+νAu(t)+B(u(t),u(t))=f(t)emV,q.s. em[0,T].
  • Unicidade
Sejam u,˜uL(0,T;H)L2(0,T;V) duas soluções do problema (2.12) com u,˜uL2(0,T;V). Então, de (2.30), a função w:=u˜u satisfaz
{w(t)+νAw(t)+B(u(t),u(t))B(˜u(t),˜u(t))=0emV, q.s. em [0,T],w(0)=0. De (2.31)1 segue que, para todo vV,
w(t),vV×V+νAw(t),vV×V+B(u(t),u(t)),vV×VB(˜u(t),˜u(t)),vV×V=0 q.s. em [0,T], ou ainda,
w(t),vV×V+νa(w(t),v)+b(u(t),u(t)),v)b(˜u(t),˜u(t)),v)=0q.s. em[0,T]. Em particular,
w(t),w(t)V×V+νa(w(t),w(t))+b(u(t),u(t)),w(t))b(˜u(t),˜u(t)),w(t))=0 q.s. em [0,T]. Pelo Lema 2.8, segue que
w(t),w(t)V×V+νa(w(t),w(t))=b(w(t),u(t),w(t))Cw(t)Hw(t)Vu(t)V q.s. em [0,T]. Da definição de a(,) e da desigualdade de Young, segue que
w(t),w(t)V×V+νw(t)2Vνw(t)2V+Cw(t)2Hu(t)2Vq.s. em[0,T]. Integrando sobre (0,t) e usando (2.31)2, concluímos que
w(t)H=t0ddtw(s)Hds=2t0w(s),w(t)V×VdsCt0w(s)2Hu(s)2Vds. Pela desigualdade de Grönwall concluímos que w=0 e, portanto, u=˜u.

Observação 2.13. Note que provamos mais do que enunciamos no Teorema 2.12. Na verdade, demonstramos o seguinte resultado:
Teorema 2.14. Dados fL2(0,T;V) e u0H, existe uma única função uL(0,T;H)L2(0,T;V) com uL2(0,T;V) satisfazendo {u+νAu+B(u,u)=femL2(0,T;V),u(0)=u0.
Isto implica que
u(t),vV×V+νa(u(t),v)+b(u(t),u(t),v)=f(t),vV×Vq.s em[0,T], vV que também é uma versão fraca de (2.2), porém, "melhor" do que a formulação fraca original (2.5)1.

2.5 Recuperação da pressão

Note que a pressão p que aparece no problema original (2.1) foi "perdida" no processo da formulação fraca. Nesta seção vamos "recuperá-la", também em um sentido fraco - diferente, porém, daquele que foi considerado anteriormente. Especificamente, vamos "recuperá-la" no sentido das distribuições sobre Q:=Ω×(0,T).

Observação 2.15. No que segue, o valor de uma distribuição gD(Ω) em vD(Ω) será representado por g,vD(Ω). Analogamente, o valor de gD(Q) em vD(Q) será representado por g,vD(Q) e o valor de gD(0,T;H1(Ω)) em vD(0,T;H1(Ω)) será representado por g,vD(0,T;H1(Ω)).

Observação 2.16. Pelo Teorema de Extensão de Hahn-Banach, todo funcional gV pode ser visto como um elemento de ([H10(Ω)]2)[(H10(Ω))]2=[H1(Ω)]2 satisfazendo gV=g[H1(Ω)]2 e
g,vV×V=g,vH1(Ω)×H10(Ω), vV.
Observação 2.17. Seja vL2(0,T;L2(Ω)). Como L2(0,T;L2(Ω))L2(Ω×(0,T))D(Q), a função vetorial v pode ser vista como uma distribuição em D(Q), especificamente, a distribuição definida pela função escalar (x,t)[v(t)](x). Assim, para toda φD(Q),v,φD(Q)=Q[v(t)](x)φ(x,t)dz=T0Ω[v(t)](x)φ(x,t)dxdt=T0v(t),φ(,t)D(Ω)dt. 
Observação 2.18. Seja vC([0,T];H1(Ω)) tal que vL2(0,T;H1(Ω)). A função v pode ser vista como um elemento de D(Q), definido por
v,φD(Q)=T0v(t),φ(,t)H1(Ω)×H10(Ω)dt, φD(Q). Seja tv a derivada distribucional de v com respeito a t em D(Q). Para quaisquer ϕD(Ω) e θD(0,T),
tv,ϕθD(Q)=v,ϕθD(Q)=T0v(t),ϕθ(t)H1(Ω)×H10(Ω)dt=T0v(t)θ(t),ϕH1(Ω)×H10(Ω)dt=T0v(t)θ(t)dt,ϕH1(Ω)×H10(Ω)=v,θD(0,T;H1(Ω)),ϕH1(Ω)×H10(Ω)=v,θD(0,T;H1(Ω)),ϕH1(Ω)×H10(Ω)=T0v(t)θ(t)dt,ϕH1(Ω)×H10(Ω)=T0v(t)θ(t),ϕH1(Ω)×H10(Ω)dt=T0v(t),ϕθ(t)H1(Ω)×H10(Ω)dt donde
tv,φD(Q)=T0v(t),φ(,t)H1(Ω)×H10(Ω)dt,φD(Q) porque span{ϕθD(Q)ϕD(Ω),θD(0,T)} é denso em D(Q) (ver Teorema 39.2, p. 409, em [18]. Logo, a função v também pode ser vista como um elemento de D(Q), definido por
v,φD(Q)=T0v(t),φ(,t)H1(Ω)×H10(Ω)dt, φD(Q) e satisfazendo v=tv em D(Q).

Agora, defina U,F,β:[0,T]V por
U(t)=t0u(s)ds,F(t)=t0f(s)ds,β(t)=t0B(u(s),u(s))ds. Sabemos que u,f,BL2(0,T;V). Logo, U, F e β são absolutamente contínuas. Em particular,
U,F,βC([0,T];V) Integrando (2.32)1 concluímos que, para todo t[0,T],
u(t)u0+νAU(t)+β(t)=t0u(s)ds+νt0Au(s)ds+β(t)=F(t) em V. Defina S:[0,T]V por S(t)=u(t)u0+νAU(t)+β(t)F(t). De (2.35) e da Observação 2.16,
SC([0,T];[H1(Ω)]2). De (2.33) e de (2.36),
S(t),v[H1(Ω)]2×[H10(Ω)]2=S(t),vV×V=0,vV×V=0, vV,t[0,T]. Resulta do Lema 2.11 que, para cada t[0,T], existe P(t)L2(Ω) tal que S(t)=(P(t)) em [H1(Ω)]2. Escrevendo S(t)=(S1(t),S2(t)), obtemos
Si(t)=xi(P(t))emH1(Ω), onde xiP(t) representa a derivada distribucional de P(t) com respeito a xi em D(Q). Além disso, por (2.37), (P())C([0,T];[H1(Ω)]2) e isto implica que PC([0,T];L2(Ω)) por causa da estimativa (2.11). Assim, a função P (pela Observação 2.17) e a função Si (pela Observação 2.18) podem ser vistas como elementos de D(Q) satisfazendo
xiP,φD(Q)=P,φxiD(Q)=T0P(t),φxi(,t)D(Ω)dt=T0xi(P(t)),φ(,t)D(Ω)dt(2.38)=T0Si(t),φ(,t)H1(Ω)×H10(Ω)dt=Si,φD(Q) para toda ϕD(Q). Isto mostra que xiP=Si em D(Q). Derivando ambos os membros com respeito t no sentido distribucional de D(Q), segue da segunda parte da Observação 2.18 que
xitP=txiP=tSi=SiemD(Q). Definindo p=tP, concluímos que
p=(x1tP,x2tP)=(S1,S2)=S=u+νAu+B(u,u)fem[D(Q)]2. Isto prova o seguinte resultado, que nos dá uma versão fraca da equação original (2.1)1:
Teorema 2.19. Existe uma distribuição pD(Q) tal que a função u dada pelo Teorema 2.14 satisfaz
u+νAu+B(u,u)=fpem[D(Q)]2.
Notas

(i) De acordo com [17], p. 280.
(ii) A palavra "completas" refere-se ao fato de que não estamos considerando as equações estacionárias e nem linearizadas; estamos considerando as equações de evolução não lineares. O caso estacionário linearizado pode ser encontrado no Capítulo 1 de [17] e no Capítulo XIX de [7]. O Capítulo XIX de [7] também contém o caso não estacionário linearizado. E o Capítulo 2 de [17] contém o caso estacionário não linearizado.
(iii) Prêmio oferecido pelo The Clay Mathematics Institute. Os enunciados dos problemas foram extraídos da página oficial.
(iv) Esta regularidade é utilizada nas integrações por partes feitas neste parágrafo.
(v) De acordo com [16], p. 35, é natural procurar uma solução com essa regularidade porque, do ponto de vista físico, a condição uL(0,T;H) expressa o fato de que a energia cinética do sistema permanece limitada e a condição uL2(0,T;V) expressa o fato de que a energia perdida para a viscosidade é finita.
(vi) Estas caracterizações de V e H não serão utilizadas explicitamente na próxima seção.
(vii) Pela regularidade de u, o termo ddt(u(),v) pode ser escrito como u(),vV×V.
(viii) Dizer que TmT em D(0,T) significa que Tm,θT,θ, para toda θD(0,T) (ver página 464 de [5] ou seção 1.19 em [8] ou parágrafo 6.16 em ]14]).

Referências

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[6] R. Dautray and J-L Lions. Mathematical Analysis and Numerical Methods for Science and Technology - Volume 5 - Evolution Problems I. Springer-Verlag, Berlin, 2000.
[7] R. Dautray and J-L Lions. Mathematical Analysis and Numerical Methods for Science and Technology - Volume 6 - Evolution Problems II. Springer-Verlag, Berlin, 2000.
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[12] L. A. Medeiros. Tópicos em Equações Diferenciais Parciais - Parte I. UFRJ/IM, Rio de Janeiro, RJ, 2006.
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[14] W. Rudin. Functional analysis. McGraw-Hill, New York, 1991.
[15] H. Sohr. The Navier-Stokes Equations: An Elementary Functional Analytic Approach. Birkhäuser Verlag, Basel, 2001.
[16] L. Tartar. Topics in Nonlinear Analysis (retirage). Public. Math. d’Orsay, Université Paris-Sud, Paris, 1982.
[17] R. Temam. Navier-Stokes Equations: Theory and Numerical Analysis. North-Holland Publishing Company, Oxford, 1977.
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