Nesta postagem apresentamos um resultado de existência e unicidade de solução fraca para as equações de Navier-Stokes num domínio limitado do plano. O material é proveniente de um seminário
apresentado pelo autor (em parceria com um colega) em disciplina de doutorado na UFRJ.
1 Considerações iniciais
Em sua formulação clássica(i) o PVIF para as equações de Navier-Stokes completas(ii) é o seguinte:
1 Considerações iniciais
Em sua formulação clássica(i) o PVIF para as equações de Navier-Stokes completas(ii) é o seguinte:
Problema 1.1 (PVIF para Navier-Stokes). Sejam Ω um aberto de Rn e T>0. Dados uma constante ν>0, uma função vetorial f:Ω×[0,T]→Rn e uma função vetorial u0:Ω→Rn, encontrar uma função vetorial u:Ω×[0,T]→Rn e uma função escalar p:Ω×[0,T]→R tais que{∂u∂t−νΔu+(u⋅∇)u=f−∇pemΩ×(0,T),divu=0emΩ×(0,T),u=0em∂Ω×(0,T),u=u0emΩ×{0}.
Este sistema descreve a velocidade u e a pressão p de um fluído incompressível viscoso que possui viscosidade constante ν, preenche permanentemente uma região Ω do espaço e está sob a influência de uma força externa f.
Curiosidade: As seguintes questões referentes ao Problema 1.1 estão em aberto e valem um milhão de dólares:(iii)
Curiosidade: As seguintes questões referentes ao Problema 1.1 estão em aberto e valem um milhão de dólares:(iii)
- Existência de Solução. Considere o Problema 1.1 com n=3, Ω=R3, T=∞, f≡0 e u0 suave satisfazendo divu0=0 e |∂αxu0(x)|≤Cα,K(1+|x|)−K,∀ x∈Rn,α∈N3,K>0. Mostre que existem u∈C∞(Ω×[0,∞);R3) e p∈C∞(Ω×[0,∞);R) satisfazendo (1.1)1,2,4 e ∫R3|u(x,t)|2dx<C,∀ t≥0.
- Não Existência de Solução. Considere o Problema 1.1 com n=3, Ω=R3 e T=∞. Mostre que existem f:R3×[0,∞)→R3 suave satisfazendo |∂αx∂mtf(x,t)|≤Cα,m,K(1+|x|+t)−K,∀ x∈Rn,t≥0,α∈N3,m∈N,K>0 e u0:R3→R3 suave satisfazendo divu0=0 e (1.2) para os quais não existem u∈C∞(Ω×[0,∞);R3) e p∈C∞(Ω×[0,∞);R) satisfazendo (1.1)1,2,4 e (1.3).
Nesta exposição, vamos considerar o Problema 1.1 para n=2 e Ω limitado com fronteira regular. O objetivo será provar existência e unicidade de solução fraca. Todo o exposto está baseado em [4, 11, 12, 17].
2 Navier-Stokes em domínios limitados de R2
Em tudo o que segue, T>0 é um número real fixo (e finito), Ω é um aberto limitado de R2 com fronteira regular e ν>0 é uma constante.
2.1 Motivação para a formulação fraca
A versão clássica do problema que vamos considerar é a seguinte:
A versão clássica do problema que vamos considerar é a seguinte:
Problema 2.1 (Navier-Stokes no plano). Dados f:Ω×[0,T]→R2 e u0:Ω→R2, encontrar u:Ω×[0,T]→R2 e p:Ω×[0,T]→R tais que{∂u∂t−νΔu+(u⋅∇)u=f−∇pemΩ×(0,T),divu=0emΩ×(0,T),u=0em∂Ω×(0,T),u=u0emΩ×{0}.
Escreva Q=Ω×(0,T). Suponhamos que, para uma função f=(f1,f2)∈C(ˉQ)×C(ˉQ), o Problema 2.1 possua uma solução (u,p) com u=(u1,u2)∈C2(ˉQ)×C2(ˉQ) e p∈C1(ˉQ).(iv) Note que a equação (2.1)1 se reescreve como
uit−νΔui+2∑j=1ujuixj=fi−pxi,i=1,2.
uit−νΔui+2∑j=1ujuixj=fi−pxi,i=1,2.
Multiplicando por vi∈D(Ω), integrando sobre Ω e mantendo implícita a dependência de t, segue que
(uit,vi)L2−ν∫ΩviΔuidx+2∑j=1(ujuixj,vi)L2=(fi,vi)L2−∫Ωpxividx.
(uit,vi)L2−ν∫ΩviΔuidx+2∑j=1(ujuixj,vi)L2=(fi,vi)L2−∫Ωpxividx.
Integrando por partes (e utilizando que vi se anula sobre ∂Ω), obtemos
(uit,vi)L2+ν∫Ω∇vi∇uidx+2∑j=1(ujuixj,vi)L2=(fi,vi)L2+∫Ωpvixidx.
(uit,vi)L2+ν∫Ω∇vi∇uidx+2∑j=1(ujuixj,vi)L2=(fi,vi)L2+∫Ωpvixidx.
Somando com respeito ao índice i, resulta que
2∑i=1(uit,vi)L2+ν2∑i=1∫Ω∇vi∇uidx+2∑i,j=1(ujuixj,vi)L2=2∑i=1(fi,vi)L2+∫Ωpdivvdx,
2∑i=1(uit,vi)L2+ν2∑i=1∫Ω∇vi∇uidx+2∑i,j=1(ujuixj,vi)L2=2∑i=1(fi,vi)L2+∫Ωpdivvdx,
onde v=(v1,v2). Supondo adicionalmente que divv=0, esta última igualdade se reduz a
2∑i=1(uit,vi)L2+ν2∑i,j=1(uixj,vixj)L2+2∑i,j=1(ujuixj,vi)L2=2∑i=1(fi,vi)L2.
2∑i=1(uit,vi)L2+ν2∑i,j=1(uixj,vixj)L2+2∑i,j=1(ujuixj,vi)L2=2∑i=1(fi,vi)L2.
Definindo
a(u,v)=2∑i,j=1(uixj,vixj)L2,b(u,w,v)=2∑i,j=1(ujwixj,vi)L2,
a expressão anterior pode ser reescrita como
(ut,v)+νa(u,v)+b(u,u,v)=(f,v),
onde (⋅,⋅) é o produto interno usual em L2(Ω)×L2(Ω). Escrevendo u(⋅,t)=u(t), f(⋅,t)=f(t) e tornando explícita a dependência de t na expressão anterior, obtemos
(ut(t),v)+νa(u(t),v)+b(u(t),u(t),v)=(f(t),v),∀ t∈(0,T).
Estas considerações motivam a definição dos espaços funcionais, a definição das aplicações e a formulação fraca estabelecidas na seção seguinte.
2.2 Formulação fraca
Defina os espaços
Defina os espaços
V={v∈D(Ω)×D(Ω)∣divv=0},V=¯V[H1(Ω)]2,H=¯V[L2(Ω)]2.
Defina também a forma bilinear a:V×V→R e a forma trilinear b:V×V×V→R por
a(u,v)=2∑i,j=1(uixj,vixj)L2,b(u,w,v)=2∑i,j=1(ujwixj,vi)L2.
a(u,v)=2∑i,j=1(uixj,vixj)L2,b(u,w,v)=2∑i,j=1(ujwixj,vi)L2.
Note que a(⋅,⋅) é o produto interno usual em [H10(Ω)]2. A seguir, vamos considerar o seguinte problema:
Problema 2.2 (Formulação fraca). Dados uma função f:[0,T]→V′ e um vetor u0∈H, provar que existe uma função u∈L∞(0,T;H)∩L2(0,T;V)(v) tal que, para todo v∈V,{ddt(u(⋅),v)+νa(u(⋅),v)+b(u(⋅),u(⋅),v)=⟨f(⋅),v⟩V′×V em D′(0,T),u(0)=u0.
Como antes, (⋅,⋅) representa o produto interno usual em [L2(Ω)]2. Note que (2.5)1 é uma versão mais fraca de (2.2). A função u deverá ter regularidade suficiente para que a condição (2.5)2 tenha sentido.
2.3 Preliminares
Nesta seção apresentaremos alguns resultados que serão necessários na seção seguinte. Começamos com dois resultados gerais.
Teorema 2.3. Seja {ej}j∈J uma família ortonormal em um espaço de Hilbert H. São equivalentes:(I) {ej}j∈J é maximal (no sentido de inclusão de conjuntos).(II) x=∑j∈J(x,ej)ej para todo x∈H.(III) ‖x‖2=∑j∈J|(x,ej)|2 para todo x∈H.(IV) ¯span{ej∣j∈J}=H.
Prova: Para (I) ⇒ (II) ⇒ (III) ⇒ (I), ver [10] (Corolário 12.8, p. 532). A implicação (II) ⇒ (IV) é imediata. Para (IV) ⇒ (II) ver [3] (Corolário 5.10, p. 143). ◻
Observação 2.4. No contexto do método de Galerkin, a "base" de um espaço normado separável X geralmente é definida como sendo uma família L.I. contável cujo espaço gerado é denso em X (a separabilidade do espaço garante a existência de tal família - ver Lema 4.1, p. 83, em [8]). Por outro lado, no contexto dos espaços de Hilbert, a "base" às vezes é definida como sendo uma família ortonormal maximal. Segue do Teorema 2.3 que, se X é Hilbert separável, então estes dois conceitos de base coincidem. A seguir, a expressão "sistema ortonormal completo" será utilizada como sinônimo de "família ortonormal maximal".
Agora, vejamos alguns resultados que se referem especificamente aos espaços e às aplicações definidas na seção precedente.
Seja A:V→V′ o operador associado à forma bilinear a(⋅,⋅), definida em (2.4). Então (ver [12], p. 15), A é uma bijeção linear contínua com inversa contínua que satisfaz
⟨Au,v⟩V′×V=a(u,v),∀ u,v∈V. Em particular, se u∈V é tal que Au∈H, então (Au,v)=a(u,v) para toda v∈V.
(˜A−1h,g)=(g,˜A−1h)=(˜A˜A−1g,˜A−1h)=a(˜A−1g,˜A−1h)=a(˜A−1h,˜A−1g)=(˜A˜A−1h,˜A−1g)=(h,˜A−1g). Segue do teorema espectral para operadores compactos autoadjuntos em espaços de Hilbert (Teorema 15.39, p. 673, em [9]) que H possui um sistema ortonormal completo {wj}j∈N formado por autovetores de ˜A−1, associados a uma família {μj}j∈N de autovalores não nulos. Como este sistema coincide com as autofunções de A, a primeira afirmação está provada. O item (a) segue de um cálculo direto. Da parte já provada, o item (II) do Teorema 2.3 se verifica para ej=wj e H=H. Usando isto e o item (a), concluímos que o item (II) do Teorema 2.3 também se verifica para ej=wj/√λj e H=V, onde λj=μ−1j. Logo, o item (b) está provado. ◻
Combinando o Teorema 2.3 como o Lema 2.7 concluímos que, para todo v∈V,
‖v‖2V=∞∑j=1|(v,wj√λj)V|2=∞∑j=11λj|(v,wj)V|2=∞∑j=1λj|(v,wj)|2. Analogamente, usando (2.7) concluímos que, para todo h∈V′,
‖A−1h‖2V=∞∑j=1|(A−1h,wj√λj)V|2=∞∑j=11λj|a(A−1h,wj)|2=∞∑j=11λj|⟨AA−1h,wj⟩V′×V|2=∞∑j=11λj|⟨h,wj⟩V′×V|2.
Observação 2.4. No contexto do método de Galerkin, a "base" de um espaço normado separável X geralmente é definida como sendo uma família L.I. contável cujo espaço gerado é denso em X (a separabilidade do espaço garante a existência de tal família - ver Lema 4.1, p. 83, em [8]). Por outro lado, no contexto dos espaços de Hilbert, a "base" às vezes é definida como sendo uma família ortonormal maximal. Segue do Teorema 2.3 que, se X é Hilbert separável, então estes dois conceitos de base coincidem. A seguir, a expressão "sistema ortonormal completo" será utilizada como sinônimo de "família ortonormal maximal".
Teorema 2.5. Sejam V e H espaços de Hilbert tais que V↪H≅H′↪V′, onde ambas as inclusões são contínuas e densas. Então,Prova: Ver [6] (teoremas 1 e 2, p. 473 e 477). ◻
W(a,b;V,V′):={u∈L2(a,b;V)∣u′∈L2(a,b;V′)}↪C([a,b];H). Mais ainda, dadas u,v∈W(a,b;V,V′), vale a fórmula de integração por partes
∫ba⟨u′(t),v(t)⟩V′×Vdt=(u(b),v(b))H−(u(a),v(a))H−∫ba⟨u(t),v′(t)⟩V×V′dt.
Agora, vejamos alguns resultados que se referem especificamente aos espaços e às aplicações definidas na seção precedente.
Lema 2.6. Os espaços V e H definidos em (2.3) possuem as seguintes propriedades:Prova: (a) Ver [7] (Teoremas 4 e 6, p. 8 e 10) ou [11] (p. 67-68) ou [17] (Teoremas 1.4 e 1.6, p. 15 e 18). (b) Segue de V e H serem subespaços fechados de [H10(Ω)]2 e [L2(Ω)]2, respectivamente. (c) Ver [7] (p. 22) ou [17] (p. 248). (d) Ver [11] (Lema 6.8, p. 74). ◻
(a) V e H são dados por(vi) V={w∈[H10(Ω)]2∣divw=0},H={w∈[L2(Ω)]2∣divw=0,(w⋅N)|∂Ω=0}. (b) V e H com as normas induzidas de [H10(Ω)]2 e [L2(Ω)]2, respectivamente, são espaços de Hilbert separáveis.
(c) V↪H≅H′↪V′, onde ambas as inclusões são contínuas e densas.
(d) A inclusão V↪H é compacta.
Seja A:V→V′ o operador associado à forma bilinear a(⋅,⋅), definida em (2.4). Então (ver [12], p. 15), A é uma bijeção linear contínua com inversa contínua que satisfaz
⟨Au,v⟩V′×V=a(u,v),∀ u,v∈V. Em particular, se u∈V é tal que Au∈H, então (Au,v)=a(u,v) para toda v∈V.
Lema 2.7. O espaço H definido em (2.3) possui um sistema ortonormal completo {wj}j∈N formado por autofunções do operador A. Mais ainda, se {λj}j∈N são os autovetores correspondentes, então:Prova: Defina X={u∈V∣Au∈H}. Das propriedades de A, segue que ˜A:=A|X é uma bijeção linear contínua com inversa ˜A−1:H→X contínua. Segue do item (d) do Lema 2.6 que ˜A−1:H→H é compacta. Mais ainda, ˜A−1 é simétrica porque, dados f,g∈H,
(a) (v,wj)V=λj(v,wj) para todo v∈V.
(b) {wj√λj}j∈N é um sistema ortonormal completo em V.
(˜A−1h,g)=(g,˜A−1h)=(˜A˜A−1g,˜A−1h)=a(˜A−1g,˜A−1h)=a(˜A−1h,˜A−1g)=(˜A˜A−1h,˜A−1g)=(h,˜A−1g). Segue do teorema espectral para operadores compactos autoadjuntos em espaços de Hilbert (Teorema 15.39, p. 673, em [9]) que H possui um sistema ortonormal completo {wj}j∈N formado por autovetores de ˜A−1, associados a uma família {μj}j∈N de autovalores não nulos. Como este sistema coincide com as autofunções de A, a primeira afirmação está provada. O item (a) segue de um cálculo direto. Da parte já provada, o item (II) do Teorema 2.3 se verifica para ej=wj e H=H. Usando isto e o item (a), concluímos que o item (II) do Teorema 2.3 também se verifica para ej=wj/√λj e H=V, onde λj=μ−1j. Logo, o item (b) está provado. ◻
Combinando o Teorema 2.3 como o Lema 2.7 concluímos que, para todo v∈V,
‖v‖2V=∞∑j=1|(v,wj√λj)V|2=∞∑j=11λj|(v,wj)V|2=∞∑j=1λj|(v,wj)|2. Analogamente, usando (2.7) concluímos que, para todo h∈V′,
‖A−1h‖2V=∞∑j=1|(A−1h,wj√λj)V|2=∞∑j=11λj|a(A−1h,wj)|2=∞∑j=11λj|⟨AA−1h,wj⟩V′×V|2=∞∑j=11λj|⟨h,wj⟩V′×V|2.
Lema 2.8. A forma trilinear definida em (2.4) é contínua e, para quaisquer u,˜u,v,w∈V, satisfaz:Prova: (a) Ver [4] (Lemas 1 e 2, p. 126) ou [11] (Lema 6.5, p. 72) ou [12] (Lemas 1 e 3, p. 115 e 119) ou [17] (Lemas 1.2 e 1.3, p. 162 e 163). (b) Ver [4] (p. 155 e 156) ou [12] (p. 122) ou [17] (p. 293). (c) Ver [12] (Observação 3, p. 122). ◻
(a) b(u,w,v)=−b(u,v,w).
(b) |b(w,w,u)|≤C‖w‖H‖w‖V‖u‖V.
(c) b(u,u,v)−b(˜u,˜u,v)=b(u−˜u,u,v)−b(u−˜u,u−˜u,v)+b(u,u−˜u,v).
Observação 2.9. Fixado (u,w)∈V×V, segue do Lema 2.8 que a aplicação v↦b(u,w,v) é um funcional linear contínuo. Logo, pelo Teorema de Representação de Riesz, podemos definir uma aplicação bilinear contínua B:V×V→V′ satisfazendo ⟨B(u,w),v⟩V′×V=b(u,w,v) para quaisquer u,w,v∈V.
Lema 2.10. Se u,v∈L∞(0,T;H)∩L2(0,T;V), então existe uma constante positiva C tal queProva: Ver [4] (Lema 4, p. 130) ou [12] (Lema 4, p. 120) ou [17] (p. 293). ◻
‖B(u(t),v(t))‖V′≤C‖u(t)‖1/2V‖v(t)‖1/2V,q.s. em[0,T] e, consequentemente, B(u(⋅),v(⋅))∈L2(0,T;V′).
Lema 2.11 (De Rham, Nečas). Sejm Ω⊂R2 um aberto limitado com fronteira regular e S∈[H−1(Ω)]2. SeProva: Ver [2] (Proposição IV.1.7, p. 238, e Teorema IV.2.3, p. 242) ou [15] (Lema 2.2.2, p. 75) ou [17] (proposições 1.1 e 1.2, p. 14, e Nota 1.4, p. 15). ◻
⟨S,v⟩[H−1(Ω)]2×[H10(Ω)]2=0,∀ v∈V, então existe uma única função P∈L2(Ω) com média nula satisfazendo S=∇P em [H−1(Ω)]2 e verificando
‖P‖L2(Ω)≤a‖S‖[H−1(Ω)]2,‖S‖[H−1(Ω)]2≤b‖P‖L2(Ω), onde a e b são constantes positivas que dependem apenas de Ω.
2.4 Existência e unicidade de solução fraca
O teorema a seguir resolve o Problema 2.2.
Teorema 2.12. Dados f∈L2(0,T;V′) e u0∈H, existe uma única função u∈L∞(0,T;H)∩L2(0,T;V) com u′∈L2(0,T;V′) satisfazendo,(vii) para todo v∈V,Prova:
{ddt(u(⋅),v)+νa(u(⋅),v)+b(u(⋅),u(⋅),v)=⟨f(⋅),v⟩V′×V em D′(0,T),u(0)=u0.
- Existência
PROBLEMA APROXIMADO
Seja {wj}j∈N a base de H dada pelo Lema 2.7. Para cada m∈N, defina Vm=span{w1,...,wm}. O primeiro passo é mostrar que, para cada m∈N e cada j=1,...,m, existem
{um(t)=m∑i=1gim(t)wj∈Vm,u0m∈Vm, satisfazendo o "problema aproximado"
{(u′m(t),wj)+νa(um(t),wj)+b(um(t),um(t),wj)=⟨f(t),wj⟩V′×V q.s. em [0,T]um(0)=u0m,u0mm→∞⟶u0emH. Seja
u0m=m∑i=1(u0,wi)wi a projeção de u0=∑∞i=1(u0,wi)wi sobre Vm. Então (u0m) é uma sequência em H satisfazendo (2.13)2 e (2.14)3. Assim, substituindo (2.13)1 e (2.15) em (2.14)1,2, concluímos que resolver o problema aproximado equivale a resolver o seguinte sistema de EDOs com 1≤j≤m:
{g′jm(t)+λjgjm(t)+m∑i,k=1b(gim(t),gkm(t),wj)=⟨f(t),wj⟩V′×V q.s. em [0,T],gjm(0)=(u0,wj), onde λj∈R é o autovalor correspondente à autofunção wj. Pelo Teorema de Carathéodory, para cada m∈N o sistema (2.16), e por conseguinte o sistema de interesse (2.14), possui uma única solução local absolutamente contínua definida sobre um intervalo [0,tm]. A primeira estimativa feita a seguir garante que tal solução pode ser estendida ao intervalo [0,T].
1ª ESTIMATIVA
Multiplicando (2.14)1 por gjm(t) e somando com respeito a j, segue que
(u′m(t),um(t))+νa(um(t),um(t))+b(um(t),um(t),um(t))=⟨f(t),um(t)⟩V′×V≤‖f(t)‖V′‖um(t)‖V. Note que
(u′m(t),um(t))=12ddt|um(t)|2H,a(um(t),um(t))=‖um(t)‖2V,b(um(t),um(t),um(t))=0, onde na segunda igualdade usamos a definição de a(⋅,⋅) e, na terceira, usamos o Lema 2.8. Portanto, pela desigualdade de Young,
12ddt|um(t)|2H+ν‖um(t)‖2V≤Cε‖f(t)‖2V′+ε‖um(t)‖2V. Tomando ε suficientemente pequeno (de modo que ν−ε>0), obtemos
ddt|um(t)|2H+‖um(t)‖2V≤C1‖f(t)‖2V′. Integrando de 0 até t∈[0,tm], resulta de (2.14)2 que
|um(t)|2H+∫t0‖um(s)‖2Vds≤|u0m|2H+C1‖f‖L2(0,T;V′). De (2.14)3, obtemos uma constante C (independente de tm) tal que
|um(t)|2H+∫t0‖um(s)‖2Vds≤C,∀ t∈[0,tm]. Assim, a solução Ym=(g1m,...,gmm) do sistema (2.16) satisfaz
|Ym(t)|Rm=m∑i=1g2im(t)=(m∑i=1gim(t)wi,m∑k=1gkm(t)wk)=(um(t),um(t))=|um(t)|2H≤C para todo t∈[0,tm]. Isto implica que Ym, e por conseguinte a solução um de (2.14), pode ser estendida ao intervalo [0,T]. Uma vez que dispomos de uma solução definida sobre [0,T], podemos repetir os cálculos anteriores com T no lugar de tm e concluir que (2.17) vale com T no lugar de tm. Portanto,
(um)é limitada emL∞(0,T;H),(um)é limitada emL2(0,T;V).
2ª ESTIMATIVA
Como o operador ˜A:X→H tem inversa simétrica (ver Seção 2.3), segue do item (a) do Lema 2.7 que
(A−1h,g)V=λj(˜A−1h,g)=λj(h,˜A−1g)=(h,A−1g)V,∀ h,g∈H. Logo, por (2.8),
‖u′m(t)‖2V′=‖AA−1u′m(t)‖2V′≤c‖A−1u′m(t)‖2V=c∞∑i=11λj|(A−1u′m(t),wj)V|2=c∞∑i=11λj|(u′m(t),A−1wj)V|2=c∞∑i=11λ2j|(u′m(t),wj)V|2=cm∑i=11λj|(u′m(t),wj)|2=cm∑i=11λj|⟨u′m(t),wj⟩V′×V|2. Escrevendo hm(t)=f(t)−νAum(t)−B(um(t),um(t)), segue de (2.14)1, (2.9) e (2.10) que
‖u′m(t)‖2V′≤cm∑i=11λj|⟨hm(t),wj⟩V′×V|2=c‖A−1hm(t)‖2V≤c1‖hm(t)‖2V′≤c1(‖f(t)‖V′+ν‖Aum(t)‖V′+‖B(um(t),um(t))‖V′)2≤c2(‖f(t)‖2V′+‖um(t)‖2V+‖um(t)‖2V). Como f∈L2(0,T;V′), segue de (2.19) que
(u′m)é limitada emL2(0,T;V′).
PASSAGEM AO LIMITE
Resulta de (2.18), (2.19) e (2.20) que existe u∈L∞(0,T;H)∩L2(0,T;V) com u′∈L2(0,T;V′) tal que
um∗⇀u emL∞(0,T;H),um⇀u emL2(0,T;V),u′m⇀u′emL2(0,T;V′). De (2.14)1 resulta que, para 1≤j≤m,
(u′m(⋅),wj)+νa(um(⋅),wj)+b(um(⋅),um(⋅),wj)=⟨f(⋅),wj⟩V′×V em D′(0,T). Vejamos que
(u′m(⋅),wj)→ddt(u(⋅),wj)a(um(⋅),wj)→a(u(⋅),wj)b(um(⋅),um(⋅),wj)→b(u(⋅),u(⋅),wj)}emD′(0,T)(viii).
A seguir provaremos a terceira convergência, que envolve o termo não linear da equação (graças à linearidade, as duas primeiras convergência são obtidas de maneira mais simples e, por isso, omitiremos os detalhes). Das limitações (2.19) e (2.20), concluímos que
(um)é limitada emW:={g∈L2(0,T;V)∣g′∈L2(0,T;V′)}. Pelo Teorema de Aubin-Lions, Wc↪L2(0,T;H) (aqui estamos usando os itens (b), (c) e (d) do Lema 2.6). Logo, passando a uma subsequência,
um→uemL2(0,T;H). Consequentemente,
uim→uiemL2(0,T;L2(Ω))≅L2(Q),i=1,2 onde Q=Ω×(0,T) (para detalhes sobre o isomorfismo acima, ver p. 24 em [13]). Resulta disto que, passando a uma subsequência,
uimukm→uiukq.s. emQ,i,k=1,2. Como n=2, temos H10(Ω)↪L4(Ω) (ver Teorema 4.12, p. 85, em [1]). Consequentemente, L2(0,T;V)↪L2(0,T;[L4(Ω)]2) e
‖uimukm‖2L2=∫Ω|uim|2|ukm|2dx≤(∫Ω|uim|4dx)1/2(∫Ω|ukm|4dx)1/2=‖uim‖2L4‖ukm‖2L4≤12‖uim‖4L4+12‖ukm‖4L4. Logo, de (2.19),
(uimukm)é limitada emL2(0,T;L2(Ω))≅L2(Q),i,k=1,2. De (2.27), de (2.28) e do Lema de Lions, segue que
uimukm⇀uiukemL2(Q)≅L2(0,T;L2(Ω)),i,k=1,2. Isto implica que
∫T0(ukm(t)v(⋅,t),uim(t))L2dt=∫Quimukmvdz→∫Quiukvdz=∫T0(uk(t)v(⋅,t),ui(t))L2dt para toda v∈L2(Q). Tomando v(x,t)=θ(t)ddxkwij(x) com θ∈L2(0,T) e somando com respeito aos índices i,k, segue que
∫T0b(um(t),θ(t)wj,um(t))dx→∫T0b(u(t),θ(t)wj,u(t))dx. Do Lema 2.8, obtemos
∫T0b(um(t),um(t),wj)θ(t)dt→∫T0b(u(t),u(t),wj)θ(t)dt,∀ θ∈L2(0,T). A última convergência vale, em particular, para todo θ∈D(0,T) e, portanto,
b(um(⋅),um(⋅),wj)→b(u(⋅),u(⋅),wj)emD′(0,T). Isto conclui a prova de (2.25). Assim, fixando j∈N e tomando o limite em (2.24) com m→∞, concluímos que
ddt(u(⋅),wj)+νa(u(⋅),wj)+b(u(⋅),u(⋅),wj)=⟨f(⋅),wj⟩V′×VemD′(0,T),∀ j∈N. Multiplicando por 1√λj, segue do item (b) do Lema 2.7 (e do Teorema 2.3) que vale (2.12)1.
CONDIÇÃO INICIAL
Já vimos que u pertence ao espaço W definido em (2.26). Logo, o Teorema 2.5 implica que u∈C([0,T];H) e, portanto, u(0) tem sentido. De (2.21) e (2.23),
∫T0(um(t),v(t))dt→∫T0(u(t),v(t))dt,∀ v∈L1(0,T;H),∫T0(u′m(t),z(t))dt=∫T0⟨u′m(t),z(t)⟩V′×Vdt→∫T0⟨u′(t),z(t)⟩V′×Vdt,∀ z∈L2(0,T;V). Tome θ∈C1[0,T] tal que θ(0)=1 e θ(T)=0. Das últimas duas convergências com v(t)=θ′(t)wj e z(t)=θ(t)wj segue que
∫T0(um(t),θ′(t)wj)dt→∫T0(u(t),θ′(t)wj)dt=∫T0⟨u(t),θ′(t)wj⟩V′×Vdt,∀ j∈N,∫T0(u′m(t),θ(t)wj)dt→∫T0⟨u′(t),θ(t)wj⟩V′×Vdt,∀ j∈N. Somando as duas últimas convergências, segue da fórmula de integração por partes (2.6) que
(um(0),wj)→(u(0),wj),∀ j∈N. Como span{wj∣j∈N} é denso em H (veja Teorema 2.3), segue de (2.14)2 e da última convergência que
(u0m,v)=(um(0),v)→(u(0),v),∀ v∈H. Mas, de (2.14)3,
(u0m,v)→(u0,v),∀ v∈H. Logo, vale (2.12)2 porque, pela unicidade do limite, as duas últimas convergências implicam que
(u(0),v)=(u0,v),∀ v∈H.
REGULARIDADE EXTRA
A igualdade já provada (2.12)1 significa que, para quaisquer θ∈D(0,T) e v∈V,
⟨ddt(u(⋅),v),θ⟩+⟨νa(u(⋅),v),θ⟩+⟨b(u(⋅),u(⋅),v),θ⟩=⟨⟨f(⋅),v⟩V′×V,θ⟩. Mas,
⟨b(u(⋅),u(⋅),v),θ⟩=∫T0b(u(t),u(t),v)θ(t)dt=∫T0⟨B(u(t),u(t)),v⟩V′×Vθ(t)dt=∫T0⟨B(u(t),u(t))θ(t),v⟩V′×Vdt=⟨∫T0B(u(t),u(t))θ(t)dt,v⟩V′×V=⟨⟨B(u(⋅),u(⋅)),θ⟩,v⟩V′×V. Observe que na penúltima igualdade estamos usando o Lema 2.10, de acordo com o qual a integral que aparece dentro da dualidade está bem definida. Analogamente,
⟨ddt(u(⋅),v),θ⟩=⟨⟨u′(⋅),θ⟩,v⟩V′×V⟨νa(u(⋅),v),θ⟩=⟨⟨νAu(⋅),θ⟩,v⟩V′×V⟨⟨f(⋅),v⟩V′×V,θ⟩=⟨⟨f(⋅),θ⟩,v⟩V′×V Logo, por (2.29),
⟨⟨u′(⋅),θ⟩+⟨νAu(⋅),θ⟩+⟨B(u(⋅),u(⋅)),θ⟩−⟨f(⋅),θ⟩,v⟩V′×V=0,∀ θ∈D(0,T),v∈V donde
⟨u′(⋅)+νAu(⋅)+B(u(⋅),u(⋅))−f(⋅),θ⟩=0emV′,∀ θ∈D(0,T). Isto implica que
u′(⋅)+νAu(⋅)+B(u(⋅),u(⋅))−f(⋅)=0emD′(0,T;V′). Por hipótese, f(⋅)∈L2(0,T;V′). Já vimos que u∈L2(0,T;V) e u′∈L2(0,T;V′). Como A:V→V′ é limitado, segue que Au(⋅)∈L2(0,T;V′). Do Lema 2.10, B(u(⋅),u(⋅))∈L2(0,T;V′). Logo, a última igualdade vale em L2(0,T;V′) e pode ser reescrita como
u′(⋅)+νAu(⋅)+B(u(⋅),u(⋅))=f(⋅)emL2(0,T;V′) donde
u′(t)+νAu(t)+B(u(t),u(t))=f(t)emV′,q.s. em[0,T].
Sejam u,˜u∈L∞(0,T;H)∩L2(0,T;V) duas soluções do problema (2.12) com u′,˜u′∈L2(0,T;V′). Então, de (2.30), a função w:=u−˜u satisfaz
{w′(t)+νAw(t)+B(u(t),u(t))−B(˜u(t),˜u(t))=0emV′, q.s. em [0,T],w(0)=0. De (2.31)1 segue que, para todo v∈V,
⟨w′(t),v⟩V′×V+⟨νAw(t),v⟩V′×V+⟨B(u(t),u(t)),v⟩V′×V−⟨B(˜u(t),˜u(t)),v⟩V′×V=0 q.s. em [0,T], ou ainda,
⟨w′(t),v⟩V′×V+νa(w(t),v)+b(u(t),u(t)),v)−b(˜u(t),˜u(t)),v)=0q.s. em[0,T]. Em particular,
⟨w′(t),w(t)⟩V′×V+νa(w(t),w(t))+b(u(t),u(t)),w(t))−b(˜u(t),˜u(t)),w(t))=0 q.s. em [0,T]. Pelo Lema 2.8, segue que
⟨w′(t),w(t)⟩V′×V+νa(w(t),w(t))=−b(w(t),u(t),w(t))≤C‖w(t)‖H‖w(t)‖V‖u(t)‖V q.s. em [0,T]. Da definição de a(⋅,⋅) e da desigualdade de Young, segue que
⟨w′(t),w(t)⟩V′×V+ν‖w(t)‖2V≤ν‖w(t)‖2V+C‖w(t)‖2H‖u(t)‖2Vq.s. em[0,T]. Integrando sobre (0,t) e usando (2.31)2, concluímos que
‖w(t)‖H=∫t0ddt‖w(s)‖Hds=2∫t0⟨w′(s),w(t)⟩V′×Vds≤C∫t0‖w(s)‖2H‖u(s)‖2Vds. Pela desigualdade de Grönwall concluímos que w=0 e, portanto, u=˜u. ◻
Observação 2.13. Note que provamos mais do que enunciamos no Teorema 2.12. Na verdade, demonstramos o seguinte resultado:
⟨u′(t),v⟩V′×V+νa(u(t),v)+b(u(t),u(t),v)=⟨f(t),v⟩V′×Vq.s em[0,T],∀ v∈V que também é uma versão fraca de (2.2), porém, "melhor" do que a formulação fraca original (2.5)1.
2.5 Recuperação da pressão
Note que a pressão p que aparece no problema original (2.1) foi "perdida" no processo da formulação fraca. Nesta seção vamos "recuperá-la", também em um sentido fraco - diferente, porém, daquele que foi considerado anteriormente. Especificamente, vamos "recuperá-la" no sentido das distribuições sobre Q:=Ω×(0,T).
Observação 2.15. No que segue, o valor de uma distribuição g∈D′(Ω) em v∈D(Ω) será representado por ⟨g,v⟩D′(Ω). Analogamente, o valor de g∈D′(Q) em v∈D(Q) será representado por ⟨g,v⟩D′(Q) e o valor de g∈D′(0,T;H−1(Ω)) em v∈D(0,T;H−1(Ω)) será representado por ⟨g,v⟩D′(0,T;H−1(Ω)).
Observação 2.16. Pelo Teorema de Extensão de Hahn-Banach, todo funcional g∈V′ pode ser visto como um elemento de ([H10(Ω)]2)′≅[(H10(Ω))′]2=[H−1(Ω)]2 satisfazendo ‖g‖V′=‖g‖[H−1(Ω)]2 e
⟨g,v⟩V′×V=⟨g,v⟩H−1(Ω)×H10(Ω),∀ v∈V.
Seja {wj}j∈N a base de H dada pelo Lema 2.7. Para cada m∈N, defina Vm=span{w1,...,wm}. O primeiro passo é mostrar que, para cada m∈N e cada j=1,...,m, existem
{um(t)=m∑i=1gim(t)wj∈Vm,u0m∈Vm, satisfazendo o "problema aproximado"
{(u′m(t),wj)+νa(um(t),wj)+b(um(t),um(t),wj)=⟨f(t),wj⟩V′×V q.s. em [0,T]um(0)=u0m,u0mm→∞⟶u0emH. Seja
u0m=m∑i=1(u0,wi)wi a projeção de u0=∑∞i=1(u0,wi)wi sobre Vm. Então (u0m) é uma sequência em H satisfazendo (2.13)2 e (2.14)3. Assim, substituindo (2.13)1 e (2.15) em (2.14)1,2, concluímos que resolver o problema aproximado equivale a resolver o seguinte sistema de EDOs com 1≤j≤m:
{g′jm(t)+λjgjm(t)+m∑i,k=1b(gim(t),gkm(t),wj)=⟨f(t),wj⟩V′×V q.s. em [0,T],gjm(0)=(u0,wj), onde λj∈R é o autovalor correspondente à autofunção wj. Pelo Teorema de Carathéodory, para cada m∈N o sistema (2.16), e por conseguinte o sistema de interesse (2.14), possui uma única solução local absolutamente contínua definida sobre um intervalo [0,tm]. A primeira estimativa feita a seguir garante que tal solução pode ser estendida ao intervalo [0,T].
1ª ESTIMATIVA
Multiplicando (2.14)1 por gjm(t) e somando com respeito a j, segue que
(u′m(t),um(t))+νa(um(t),um(t))+b(um(t),um(t),um(t))=⟨f(t),um(t)⟩V′×V≤‖f(t)‖V′‖um(t)‖V. Note que
(u′m(t),um(t))=12ddt|um(t)|2H,a(um(t),um(t))=‖um(t)‖2V,b(um(t),um(t),um(t))=0, onde na segunda igualdade usamos a definição de a(⋅,⋅) e, na terceira, usamos o Lema 2.8. Portanto, pela desigualdade de Young,
12ddt|um(t)|2H+ν‖um(t)‖2V≤Cε‖f(t)‖2V′+ε‖um(t)‖2V. Tomando ε suficientemente pequeno (de modo que ν−ε>0), obtemos
ddt|um(t)|2H+‖um(t)‖2V≤C1‖f(t)‖2V′. Integrando de 0 até t∈[0,tm], resulta de (2.14)2 que
|um(t)|2H+∫t0‖um(s)‖2Vds≤|u0m|2H+C1‖f‖L2(0,T;V′). De (2.14)3, obtemos uma constante C (independente de tm) tal que
|um(t)|2H+∫t0‖um(s)‖2Vds≤C,∀ t∈[0,tm]. Assim, a solução Ym=(g1m,...,gmm) do sistema (2.16) satisfaz
|Ym(t)|Rm=m∑i=1g2im(t)=(m∑i=1gim(t)wi,m∑k=1gkm(t)wk)=(um(t),um(t))=|um(t)|2H≤C para todo t∈[0,tm]. Isto implica que Ym, e por conseguinte a solução um de (2.14), pode ser estendida ao intervalo [0,T]. Uma vez que dispomos de uma solução definida sobre [0,T], podemos repetir os cálculos anteriores com T no lugar de tm e concluir que (2.17) vale com T no lugar de tm. Portanto,
(um)é limitada emL∞(0,T;H),(um)é limitada emL2(0,T;V).
2ª ESTIMATIVA
Como o operador ˜A:X→H tem inversa simétrica (ver Seção 2.3), segue do item (a) do Lema 2.7 que
(A−1h,g)V=λj(˜A−1h,g)=λj(h,˜A−1g)=(h,A−1g)V,∀ h,g∈H. Logo, por (2.8),
‖u′m(t)‖2V′=‖AA−1u′m(t)‖2V′≤c‖A−1u′m(t)‖2V=c∞∑i=11λj|(A−1u′m(t),wj)V|2=c∞∑i=11λj|(u′m(t),A−1wj)V|2=c∞∑i=11λ2j|(u′m(t),wj)V|2=cm∑i=11λj|(u′m(t),wj)|2=cm∑i=11λj|⟨u′m(t),wj⟩V′×V|2. Escrevendo hm(t)=f(t)−νAum(t)−B(um(t),um(t)), segue de (2.14)1, (2.9) e (2.10) que
‖u′m(t)‖2V′≤cm∑i=11λj|⟨hm(t),wj⟩V′×V|2=c‖A−1hm(t)‖2V≤c1‖hm(t)‖2V′≤c1(‖f(t)‖V′+ν‖Aum(t)‖V′+‖B(um(t),um(t))‖V′)2≤c2(‖f(t)‖2V′+‖um(t)‖2V+‖um(t)‖2V). Como f∈L2(0,T;V′), segue de (2.19) que
(u′m)é limitada emL2(0,T;V′).
PASSAGEM AO LIMITE
Resulta de (2.18), (2.19) e (2.20) que existe u∈L∞(0,T;H)∩L2(0,T;V) com u′∈L2(0,T;V′) tal que
um∗⇀u emL∞(0,T;H),um⇀u emL2(0,T;V),u′m⇀u′emL2(0,T;V′). De (2.14)1 resulta que, para 1≤j≤m,
(u′m(⋅),wj)+νa(um(⋅),wj)+b(um(⋅),um(⋅),wj)=⟨f(⋅),wj⟩V′×V em D′(0,T). Vejamos que
(u′m(⋅),wj)→ddt(u(⋅),wj)a(um(⋅),wj)→a(u(⋅),wj)b(um(⋅),um(⋅),wj)→b(u(⋅),u(⋅),wj)}emD′(0,T)(viii).
A seguir provaremos a terceira convergência, que envolve o termo não linear da equação (graças à linearidade, as duas primeiras convergência são obtidas de maneira mais simples e, por isso, omitiremos os detalhes). Das limitações (2.19) e (2.20), concluímos que
(um)é limitada emW:={g∈L2(0,T;V)∣g′∈L2(0,T;V′)}. Pelo Teorema de Aubin-Lions, Wc↪L2(0,T;H) (aqui estamos usando os itens (b), (c) e (d) do Lema 2.6). Logo, passando a uma subsequência,
um→uemL2(0,T;H). Consequentemente,
uim→uiemL2(0,T;L2(Ω))≅L2(Q),i=1,2 onde Q=Ω×(0,T) (para detalhes sobre o isomorfismo acima, ver p. 24 em [13]). Resulta disto que, passando a uma subsequência,
uimukm→uiukq.s. emQ,i,k=1,2. Como n=2, temos H10(Ω)↪L4(Ω) (ver Teorema 4.12, p. 85, em [1]). Consequentemente, L2(0,T;V)↪L2(0,T;[L4(Ω)]2) e
‖uimukm‖2L2=∫Ω|uim|2|ukm|2dx≤(∫Ω|uim|4dx)1/2(∫Ω|ukm|4dx)1/2=‖uim‖2L4‖ukm‖2L4≤12‖uim‖4L4+12‖ukm‖4L4. Logo, de (2.19),
(uimukm)é limitada emL2(0,T;L2(Ω))≅L2(Q),i,k=1,2. De (2.27), de (2.28) e do Lema de Lions, segue que
uimukm⇀uiukemL2(Q)≅L2(0,T;L2(Ω)),i,k=1,2. Isto implica que
∫T0(ukm(t)v(⋅,t),uim(t))L2dt=∫Quimukmvdz→∫Quiukvdz=∫T0(uk(t)v(⋅,t),ui(t))L2dt para toda v∈L2(Q). Tomando v(x,t)=θ(t)ddxkwij(x) com θ∈L2(0,T) e somando com respeito aos índices i,k, segue que
∫T0b(um(t),θ(t)wj,um(t))dx→∫T0b(u(t),θ(t)wj,u(t))dx. Do Lema 2.8, obtemos
∫T0b(um(t),um(t),wj)θ(t)dt→∫T0b(u(t),u(t),wj)θ(t)dt,∀ θ∈L2(0,T). A última convergência vale, em particular, para todo θ∈D(0,T) e, portanto,
b(um(⋅),um(⋅),wj)→b(u(⋅),u(⋅),wj)emD′(0,T). Isto conclui a prova de (2.25). Assim, fixando j∈N e tomando o limite em (2.24) com m→∞, concluímos que
ddt(u(⋅),wj)+νa(u(⋅),wj)+b(u(⋅),u(⋅),wj)=⟨f(⋅),wj⟩V′×VemD′(0,T),∀ j∈N. Multiplicando por 1√λj, segue do item (b) do Lema 2.7 (e do Teorema 2.3) que vale (2.12)1.
CONDIÇÃO INICIAL
Já vimos que u pertence ao espaço W definido em (2.26). Logo, o Teorema 2.5 implica que u∈C([0,T];H) e, portanto, u(0) tem sentido. De (2.21) e (2.23),
∫T0(um(t),v(t))dt→∫T0(u(t),v(t))dt,∀ v∈L1(0,T;H),∫T0(u′m(t),z(t))dt=∫T0⟨u′m(t),z(t)⟩V′×Vdt→∫T0⟨u′(t),z(t)⟩V′×Vdt,∀ z∈L2(0,T;V). Tome θ∈C1[0,T] tal que θ(0)=1 e θ(T)=0. Das últimas duas convergências com v(t)=θ′(t)wj e z(t)=θ(t)wj segue que
∫T0(um(t),θ′(t)wj)dt→∫T0(u(t),θ′(t)wj)dt=∫T0⟨u(t),θ′(t)wj⟩V′×Vdt,∀ j∈N,∫T0(u′m(t),θ(t)wj)dt→∫T0⟨u′(t),θ(t)wj⟩V′×Vdt,∀ j∈N. Somando as duas últimas convergências, segue da fórmula de integração por partes (2.6) que
(um(0),wj)→(u(0),wj),∀ j∈N. Como span{wj∣j∈N} é denso em H (veja Teorema 2.3), segue de (2.14)2 e da última convergência que
(u0m,v)=(um(0),v)→(u(0),v),∀ v∈H. Mas, de (2.14)3,
(u0m,v)→(u0,v),∀ v∈H. Logo, vale (2.12)2 porque, pela unicidade do limite, as duas últimas convergências implicam que
(u(0),v)=(u0,v),∀ v∈H.
REGULARIDADE EXTRA
A igualdade já provada (2.12)1 significa que, para quaisquer θ∈D(0,T) e v∈V,
⟨ddt(u(⋅),v),θ⟩+⟨νa(u(⋅),v),θ⟩+⟨b(u(⋅),u(⋅),v),θ⟩=⟨⟨f(⋅),v⟩V′×V,θ⟩. Mas,
⟨b(u(⋅),u(⋅),v),θ⟩=∫T0b(u(t),u(t),v)θ(t)dt=∫T0⟨B(u(t),u(t)),v⟩V′×Vθ(t)dt=∫T0⟨B(u(t),u(t))θ(t),v⟩V′×Vdt=⟨∫T0B(u(t),u(t))θ(t)dt,v⟩V′×V=⟨⟨B(u(⋅),u(⋅)),θ⟩,v⟩V′×V. Observe que na penúltima igualdade estamos usando o Lema 2.10, de acordo com o qual a integral que aparece dentro da dualidade está bem definida. Analogamente,
⟨ddt(u(⋅),v),θ⟩=⟨⟨u′(⋅),θ⟩,v⟩V′×V⟨νa(u(⋅),v),θ⟩=⟨⟨νAu(⋅),θ⟩,v⟩V′×V⟨⟨f(⋅),v⟩V′×V,θ⟩=⟨⟨f(⋅),θ⟩,v⟩V′×V Logo, por (2.29),
⟨⟨u′(⋅),θ⟩+⟨νAu(⋅),θ⟩+⟨B(u(⋅),u(⋅)),θ⟩−⟨f(⋅),θ⟩,v⟩V′×V=0,∀ θ∈D(0,T),v∈V donde
⟨u′(⋅)+νAu(⋅)+B(u(⋅),u(⋅))−f(⋅),θ⟩=0emV′,∀ θ∈D(0,T). Isto implica que
u′(⋅)+νAu(⋅)+B(u(⋅),u(⋅))−f(⋅)=0emD′(0,T;V′). Por hipótese, f(⋅)∈L2(0,T;V′). Já vimos que u∈L2(0,T;V) e u′∈L2(0,T;V′). Como A:V→V′ é limitado, segue que Au(⋅)∈L2(0,T;V′). Do Lema 2.10, B(u(⋅),u(⋅))∈L2(0,T;V′). Logo, a última igualdade vale em L2(0,T;V′) e pode ser reescrita como
u′(⋅)+νAu(⋅)+B(u(⋅),u(⋅))=f(⋅)emL2(0,T;V′) donde
u′(t)+νAu(t)+B(u(t),u(t))=f(t)emV′,q.s. em[0,T].
- Unicidade
{w′(t)+νAw(t)+B(u(t),u(t))−B(˜u(t),˜u(t))=0emV′, q.s. em [0,T],w(0)=0. De (2.31)1 segue que, para todo v∈V,
⟨w′(t),v⟩V′×V+⟨νAw(t),v⟩V′×V+⟨B(u(t),u(t)),v⟩V′×V−⟨B(˜u(t),˜u(t)),v⟩V′×V=0 q.s. em [0,T], ou ainda,
⟨w′(t),v⟩V′×V+νa(w(t),v)+b(u(t),u(t)),v)−b(˜u(t),˜u(t)),v)=0q.s. em[0,T]. Em particular,
⟨w′(t),w(t)⟩V′×V+νa(w(t),w(t))+b(u(t),u(t)),w(t))−b(˜u(t),˜u(t)),w(t))=0 q.s. em [0,T]. Pelo Lema 2.8, segue que
⟨w′(t),w(t)⟩V′×V+νa(w(t),w(t))=−b(w(t),u(t),w(t))≤C‖w(t)‖H‖w(t)‖V‖u(t)‖V q.s. em [0,T]. Da definição de a(⋅,⋅) e da desigualdade de Young, segue que
⟨w′(t),w(t)⟩V′×V+ν‖w(t)‖2V≤ν‖w(t)‖2V+C‖w(t)‖2H‖u(t)‖2Vq.s. em[0,T]. Integrando sobre (0,t) e usando (2.31)2, concluímos que
‖w(t)‖H=∫t0ddt‖w(s)‖Hds=2∫t0⟨w′(s),w(t)⟩V′×Vds≤C∫t0‖w(s)‖2H‖u(s)‖2Vds. Pela desigualdade de Grönwall concluímos que w=0 e, portanto, u=˜u. ◻
Observação 2.13. Note que provamos mais do que enunciamos no Teorema 2.12. Na verdade, demonstramos o seguinte resultado:
Teorema 2.14. Dados f∈L2(0,T;V′) e u0∈H, existe uma única função u∈L∞(0,T;H)∩L2(0,T;V) com u′∈L2(0,T;V′) satisfazendo {u′+νAu+B(u,u)=femL2(0,T;V′),u(0)=u0.Isto implica que
⟨u′(t),v⟩V′×V+νa(u(t),v)+b(u(t),u(t),v)=⟨f(t),v⟩V′×Vq.s em[0,T],∀ v∈V que também é uma versão fraca de (2.2), porém, "melhor" do que a formulação fraca original (2.5)1.
2.5 Recuperação da pressão
Note que a pressão p que aparece no problema original (2.1) foi "perdida" no processo da formulação fraca. Nesta seção vamos "recuperá-la", também em um sentido fraco - diferente, porém, daquele que foi considerado anteriormente. Especificamente, vamos "recuperá-la" no sentido das distribuições sobre Q:=Ω×(0,T).
Observação 2.15. No que segue, o valor de uma distribuição g∈D′(Ω) em v∈D(Ω) será representado por ⟨g,v⟩D′(Ω). Analogamente, o valor de g∈D′(Q) em v∈D(Q) será representado por ⟨g,v⟩D′(Q) e o valor de g∈D′(0,T;H−1(Ω)) em v∈D(0,T;H−1(Ω)) será representado por ⟨g,v⟩D′(0,T;H−1(Ω)).
Observação 2.16. Pelo Teorema de Extensão de Hahn-Banach, todo funcional g∈V′ pode ser visto como um elemento de ([H10(Ω)]2)′≅[(H10(Ω))′]2=[H−1(Ω)]2 satisfazendo ‖g‖V′=‖g‖[H−1(Ω)]2 e
⟨g,v⟩V′×V=⟨g,v⟩H−1(Ω)×H10(Ω),∀ v∈V.
Observação 2.17. Seja v∈L2(0,T;L2(Ω)). Como L2(0,T;L2(Ω))≅L2(Ω×(0,T))⊂D′(Q), a função vetorial v pode ser vista como uma distribuição em D′(Q), especificamente, a distribuição definida pela função escalar (x,t)↦[v(t)](x). Assim, para toda φ∈D(Q),⟨v,φ⟩D′(Q)=∫Q[v(t)](x)φ(x,t)dz=∫T0∫Ω[v(t)](x)φ(x,t)dxdt=∫T0⟨v(t),φ(⋅,t)⟩D′(Ω)dt.
Observação 2.18. Seja v∈C([0,T];H−1(Ω)) tal que v′∈L2(0,T;H−1(Ω)). A função v pode ser vista como um elemento de D′(Q), definido por
⟨v,φ⟩D′(Q)=∫T0⟨v(t),φ(⋅,t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt,∀ φ∈D(Q). Seja ∂tv a derivada distribucional de v com respeito a t em D′(Q). Para quaisquer ϕ∈D(Ω) e θ∈D(0,T),
⟨∂tv,ϕθ⟩D′(Q)=−⟨v,ϕθ′⟩D′(Q)=−∫T0⟨v(t),ϕθ′(t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt=−∫T0⟨v(t)θ′(t),ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt=−⟨∫T0v(t)θ′(t)dt,ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)=−⟨⟨v,θ′⟩D′(0,T;H−1(Ω)),ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)=⟨⟨v′,θ⟩D′(0,T;H−1(Ω)),ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)=⟨∫T0v′(t)θ(t)dt,ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)=∫T0⟨v′(t)θ(t),ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt=∫T0⟨v′(t),ϕθ(t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt donde
⟨∂tv,φ⟩D′(Q)=∫T0⟨v′(t),φ(⋅,t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt,∀φ∈D(Q) porque span{ϕθ∈D(Q)∣ϕ∈D(Ω),θ∈D(0,T)} é denso em D(Q) (ver Teorema 39.2, p. 409, em [18]. Logo, a função v′ também pode ser vista como um elemento de D′(Q), definido por
⟨v′,φ⟩D′(Q)=∫T0⟨v′(t),φ(⋅,t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt,∀ φ∈D(Q) e satisfazendo v′=∂tv em D′(Q).
Agora, defina U,F,β:[0,T]→V′ por
U(t)=∫t0u(s)ds,F(t)=∫t0f(s)ds,β(t)=∫t0B(u(s),u(s))ds. Sabemos que u,f,B∈L2(0,T;V′). Logo, U, F e β são absolutamente contínuas. Em particular,
U,F,β∈C([0,T];V′) Integrando (2.32)1 concluímos que, para todo t∈[0,T],
u(t)−u0+νAU(t)+β(t)=∫t0u′(s)ds+ν∫t0Au(s)ds+β(t)=F(t) em V′. Defina S:[0,T]→V′ por S(t)=u(t)−u0+νAU(t)+β(t)−F(t). De (2.35) e da Observação 2.16,
S∈C([0,T];[H−1(Ω)]2). De (2.33) e de (2.36),
⟨S(t),v⟩[H−1(Ω)]2×[H10(Ω)]2=⟨S(t),v⟩V′×V=⟨0,v⟩V′×V=0,∀ v∈V,t∈[0,T]. Resulta do Lema 2.11 que, para cada t∈[0,T], existe P(t)∈L2(Ω) tal que S(t)=∇(P(t)) em [H−1(Ω)]2. Escrevendo S(t)=(S1(t),S2(t)), obtemos
Si(t)=∂xi(P(t))emH−1(Ω), onde ∂xiP(t) representa a derivada distribucional de P(t) com respeito a xi em D′(Q). Além disso, por (2.37), ∇(P(⋅))∈C([0,T];[H−1(Ω)]2) e isto implica que P∈C([0,T];L2(Ω)) por causa da estimativa (2.11). Assim, a função P (pela Observação 2.17) e a função Si (pela Observação 2.18) podem ser vistas como elementos de D′(Q) satisfazendo
⟨∂xiP,φ⟩D′(Q)=⟨P,φxi⟩D′(Q)=−∫T0⟨P(t),φxi(⋅,t)⟩D′(Ω)dt=∫T0⟨∂xi(P(t)),φ(⋅,t)⟩D′(Ω)dt(2.38)=∫T0⟨Si(t),φ(⋅,t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt=⟨Si,φ⟩D′(Q) para toda ϕ∈D(Q). Isto mostra que ∂xiP=Si em D′(Q). Derivando ambos os membros com respeito t no sentido distribucional de D′(Q), segue da segunda parte da Observação 2.18 que
∂xi∂tP=∂t∂xiP=∂tSi=S′iemD′(Q). Definindo p=−∂tP, concluímos que
−∇p=(∂x1∂tP,∂x2∂tP)=(S′1,S′2)=S′=u′+νAu+B(u,u)−fem[D′(Q)]2. Isto prova o seguinte resultado, que nos dá uma versão fraca da equação original (2.1)1:
Observação 2.18. Seja v∈C([0,T];H−1(Ω)) tal que v′∈L2(0,T;H−1(Ω)). A função v pode ser vista como um elemento de D′(Q), definido por
⟨v,φ⟩D′(Q)=∫T0⟨v(t),φ(⋅,t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt,∀ φ∈D(Q). Seja ∂tv a derivada distribucional de v com respeito a t em D′(Q). Para quaisquer ϕ∈D(Ω) e θ∈D(0,T),
⟨∂tv,ϕθ⟩D′(Q)=−⟨v,ϕθ′⟩D′(Q)=−∫T0⟨v(t),ϕθ′(t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt=−∫T0⟨v(t)θ′(t),ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt=−⟨∫T0v(t)θ′(t)dt,ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)=−⟨⟨v,θ′⟩D′(0,T;H−1(Ω)),ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)=⟨⟨v′,θ⟩D′(0,T;H−1(Ω)),ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)=⟨∫T0v′(t)θ(t)dt,ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)=∫T0⟨v′(t)θ(t),ϕ⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt=∫T0⟨v′(t),ϕθ(t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt donde
⟨∂tv,φ⟩D′(Q)=∫T0⟨v′(t),φ(⋅,t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt,∀φ∈D(Q) porque span{ϕθ∈D(Q)∣ϕ∈D(Ω),θ∈D(0,T)} é denso em D(Q) (ver Teorema 39.2, p. 409, em [18]. Logo, a função v′ também pode ser vista como um elemento de D′(Q), definido por
⟨v′,φ⟩D′(Q)=∫T0⟨v′(t),φ(⋅,t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt,∀ φ∈D(Q) e satisfazendo v′=∂tv em D′(Q).
Agora, defina U,F,β:[0,T]→V′ por
U(t)=∫t0u(s)ds,F(t)=∫t0f(s)ds,β(t)=∫t0B(u(s),u(s))ds. Sabemos que u,f,B∈L2(0,T;V′). Logo, U, F e β são absolutamente contínuas. Em particular,
U,F,β∈C([0,T];V′) Integrando (2.32)1 concluímos que, para todo t∈[0,T],
u(t)−u0+νAU(t)+β(t)=∫t0u′(s)ds+ν∫t0Au(s)ds+β(t)=F(t) em V′. Defina S:[0,T]→V′ por S(t)=u(t)−u0+νAU(t)+β(t)−F(t). De (2.35) e da Observação 2.16,
S∈C([0,T];[H−1(Ω)]2). De (2.33) e de (2.36),
⟨S(t),v⟩[H−1(Ω)]2×[H10(Ω)]2=⟨S(t),v⟩V′×V=⟨0,v⟩V′×V=0,∀ v∈V,t∈[0,T]. Resulta do Lema 2.11 que, para cada t∈[0,T], existe P(t)∈L2(Ω) tal que S(t)=∇(P(t)) em [H−1(Ω)]2. Escrevendo S(t)=(S1(t),S2(t)), obtemos
Si(t)=∂xi(P(t))emH−1(Ω), onde ∂xiP(t) representa a derivada distribucional de P(t) com respeito a xi em D′(Q). Além disso, por (2.37), ∇(P(⋅))∈C([0,T];[H−1(Ω)]2) e isto implica que P∈C([0,T];L2(Ω)) por causa da estimativa (2.11). Assim, a função P (pela Observação 2.17) e a função Si (pela Observação 2.18) podem ser vistas como elementos de D′(Q) satisfazendo
⟨∂xiP,φ⟩D′(Q)=⟨P,φxi⟩D′(Q)=−∫T0⟨P(t),φxi(⋅,t)⟩D′(Ω)dt=∫T0⟨∂xi(P(t)),φ(⋅,t)⟩D′(Ω)dt(2.38)=∫T0⟨Si(t),φ(⋅,t)⟩H−1(Ω)×H10(Ω)dt=⟨Si,φ⟩D′(Q) para toda ϕ∈D(Q). Isto mostra que ∂xiP=Si em D′(Q). Derivando ambos os membros com respeito t no sentido distribucional de D′(Q), segue da segunda parte da Observação 2.18 que
∂xi∂tP=∂t∂xiP=∂tSi=S′iemD′(Q). Definindo p=−∂tP, concluímos que
−∇p=(∂x1∂tP,∂x2∂tP)=(S′1,S′2)=S′=u′+νAu+B(u,u)−fem[D′(Q)]2. Isto prova o seguinte resultado, que nos dá uma versão fraca da equação original (2.1)1:
Teorema 2.19. Existe uma distribuição p∈D′(Q) tal que a função u dada pelo Teorema 2.14 satisfaz
u′+νAu+B(u,u)=f−∇pem[D′(Q)]2.
Notas
(i) De acordo com [17], p. 280.
(ii) A palavra "completas" refere-se ao fato de que não estamos
considerando as equações estacionárias e nem linearizadas; estamos
considerando as equações de evolução não lineares. O caso estacionário
linearizado pode ser encontrado no Capítulo 1 de [17] e no
Capítulo XIX de [7]. O Capítulo XIX de [7]
também contém o caso não estacionário linearizado. E o Capítulo 2 de [17] contém o caso estacionário não linearizado.
(iii) Prêmio oferecido pelo The Clay Mathematics Institute. Os enunciados dos
problemas foram extraídos da página oficial.
(iv) Esta regularidade é utilizada nas integrações por partes feitas neste parágrafo.
(v) De acordo com [16], p. 35, é natural procurar uma solução com
essa regularidade porque, do ponto de vista físico, a condição u∈L∞(0,T;H) expressa o fato de que a energia cinética do sistema
permanece limitada e a condição u∈L2(0,T;V) expressa o fato de que
a energia perdida para a viscosidade é finita.
(vi) Estas caracterizações de V e H não serão utilizadas explicitamente na próxima seção.
(vii) Pela regularidade de u′, o termo ddt(u(⋅),v) pode ser escrito como ⟨u′(⋅),v⟩V′×V.
(viii) Dizer que Tm→T em D′(0,T) significa que ⟨Tm,θ⟩→⟨T,θ⟩, para toda θ∈D(0,T) (ver página 464 de [5] ou seção 1.19 em [8] ou parágrafo 6.16 em ]14]).
(vi) Estas caracterizações de V e H não serão utilizadas explicitamente na próxima seção.
(vii) Pela regularidade de u′, o termo ddt(u(⋅),v) pode ser escrito como ⟨u′(⋅),v⟩V′×V.
(viii) Dizer que Tm→T em D′(0,T) significa que ⟨Tm,θ⟩→⟨T,θ⟩, para toda θ∈D(0,T) (ver página 464 de [5] ou seção 1.19 em [8] ou parágrafo 6.16 em ]14]).
Referências
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[3] H. Brezis. Functional Analysis, Sobolev Spaces and Partial Differential Equations. Springer, New York, NY, 2011.
[4] M. M. Cavalcanti and V. N. D. Cavalcanti. Introdução às Equações Diferenciais Parciais. UEM/DMA, Maringá, PR, 2010.
[5] R. Dautray and J-L Lions. Mathematical Analysis and Numerical Methods for Science and Technology - Volume 2 - Functional and Variational Methods. Springer-Verlag, Berlin, 1988.
[6] R. Dautray and J-L Lions. Mathematical Analysis and Numerical Methods for Science and Technology - Volume 5 - Evolution Problems I. Springer-Verlag, Berlin, 2000.
[7] R. Dautray and J-L Lions. Mathematical Analysis and Numerical Methods for Science and Technology - Volume 6 - Evolution Problems II. Springer-Verlag, Berlin, 2000.
[8] H. Le Dret. Équations aux dérivées partielles elliptiques non linéaires. Springer-Verlag, Berlin, 2013.
[9] M. Fabian, P. Habala, P. Hájek, V. Montesinos, and V. Zizler. Banach Space Theory - The Basis for Linear and Nonlinear Analysis. Springer, New York, NY, 2011.
[10] A. W. Knapp. Basic Real Analysis. Birkhäuser, Boston, 2005.
[11] J. L. Lions. Quelques Méthodes de Résolution des Problèmes aux Limites non Linéaires. Dunod, Paris, 1969.
[12] L. A. Medeiros. Tópicos em Equações Diferenciais Parciais - Parte I. UFRJ/IM, Rio de Janeiro, RJ, 2006.
[13] T. Roubíček. Nonlinear Partial Differential Equations with Applications. Birkhäuser Verlag, Berlin, 2005.
[14] W. Rudin. Functional analysis. McGraw-Hill, New York, 1991.
[15] H. Sohr. The Navier-Stokes Equations: An Elementary Functional Analytic Approach. Birkhäuser Verlag, Basel, 2001.
[16] L. Tartar. Topics in Nonlinear Analysis (retirage). Public. Math. d’Orsay, Université Paris-Sud, Paris, 1982.
[17] R. Temam. Navier-Stokes Equations: Theory and Numerical Analysis. North-Holland Publishing Company, Oxford, 1977.
[18] F. Treves. Topological Vector Spaces, Distributions and Kernels. Academic Press, San Diego, 1967.
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