Algoritmo da Divisão: Se a é um número inteiro qualquer e b é um número inteiro maior do que zero, então existem dois números inteiros q e r tais que a=bq+r, onde 0≤r<b. Além disso, q e r são únicos.
Na primeira postagem demonstramos a existência de q e r, na segunda demonstramos a dupla desigualdade 0≤r<b e nesta, que é a terceira, vamos mostrar que q e r, satisfazendo as condições do enunciado acima, são únicos (em outros termos: vamos demonstrar a unicidade de q e r).
Para cumprir nosso propósito vamos precisar de um "resultado preliminar" que enunciamos abaixo, mas antes lembremos que dizer que "o inteiro d é divisível pelo inteiro c" significa que "existe um inteiro t tal que d=ct" (isto entre aspas é uma definição. Exemplo: o número 20 é divisível por 5, pois existe um inteiro t tal que 20=5t. Neste caso temos t=4).
Para cumprir nosso propósito vamos precisar de um "resultado preliminar" que enunciamos abaixo, mas antes lembremos que dizer que "o inteiro d é divisível pelo inteiro c" significa que "existe um inteiro t tal que d=ct" (isto entre aspas é uma definição. Exemplo: o número 20 é divisível por 5, pois existe um inteiro t tal que 20=5t. Neste caso temos t=4).
Resultado preliminar:
Se d é um inteiro diferente de zero divisível por c, então a diferença |d|−|c| nunca é negativa (note que isto equivale a dizer que todo inteiro não nulo é "maior do que" ou "igual a" seu divisor; em símbolos |d|≥|c|) Exemplos: −20 é um número inteiro diferente de zero divisível por 10. É fácil ver que a diferença |−20|−|10| é positiva (e, portanto, não negativa); 8 é divisível por 8 e também é óbvio que |8|−|8| não é negativa (pois é nula).
Observação: apesar de ser, em certo sentido, intuitivo, o "resultado preliminar" é uma proposição demonstrável: se d é divisível por c, então (por definição) existe um inteiro t tal que d=ct. Segue desta última igualdade que
|d|=|ct|=|c|⋅|t|=|c|⋅|t|+0=|c|⋅|t|+|c|−|c|=|c|+|c|⋅(|t|−1)Assim, concluímos que |d|=|c|+|c|⋅(|t|−1) e, por conseguinte, |d|−|c|=|c|⋅(|t|−1). Agora nosso trabalho se reduz em mostrar que o número |c|⋅(|t|−1) nunca é negativo. Ora, para ser negativo deveríamos ter (|t|−1)<0 (pois |c| é positivo e para um produto ser negativo um, e apenas um, de seus fatores tem que ser negativo). Mas, se (|t|−1)<0, então tem que valer |t|<1. Observe que |t| não pode ser negativo (pela própria definição de valor absoluto) e ao mesmo tempo é um inteiro menor do que um. O único inteiro menor do que 1 que existe é o zero, assim tem que ser |t|=0, por isso, t=0, donde segue que d=0 (pois d=ct). Mas isto é um absurdo, pois d foi suposto diferente de zero. Resumindo: se a diferença |d|−|c| é negativa, então d=0 - o que não pode ocorrer - logo, a diferença não é negativa e o resultado está demonstrado.
|d|=|ct|=|c|⋅|t|=|c|⋅|t|+0=|c|⋅|t|+|c|−|c|=|c|+|c|⋅(|t|−1)Assim, concluímos que |d|=|c|+|c|⋅(|t|−1) e, por conseguinte, |d|−|c|=|c|⋅(|t|−1). Agora nosso trabalho se reduz em mostrar que o número |c|⋅(|t|−1) nunca é negativo. Ora, para ser negativo deveríamos ter (|t|−1)<0 (pois |c| é positivo e para um produto ser negativo um, e apenas um, de seus fatores tem que ser negativo). Mas, se (|t|−1)<0, então tem que valer |t|<1. Observe que |t| não pode ser negativo (pela própria definição de valor absoluto) e ao mesmo tempo é um inteiro menor do que um. O único inteiro menor do que 1 que existe é o zero, assim tem que ser |t|=0, por isso, t=0, donde segue que d=0 (pois d=ct). Mas isto é um absurdo, pois d foi suposto diferente de zero. Resumindo: se a diferença |d|−|c| é negativa, então d=0 - o que não pode ocorrer - logo, a diferença não é negativa e o resultado está demonstrado.
Dito isto, vamos para a prova da unicidade. Começamos supondo que existam r′ e q′ tais que a=bq′+r′ com 0≤r′<b. Vamos concluir, a partir desta suposição, que r′=r e q′=q.
Como 0≤r<b, obtém-se (multiplicando tudo por −1) −b<−r≤0. Temos, então, quatro desigualdades:
0≤r′r′<b−b<−r′−r′≤0
0≤r′r′<b−b<−r′−r′≤0
Somando os termos das desigualdades obtemos:
0−b<r′−r,r′−r<b+0
Da primeira e da segunda desigualdade tiramos, respectivamente, −(r′−r)<b e r′−r<b , o que pode ser escrito como |r′−r|<b. Note que como |r′−r| é não negativo, qualquer número maior do que ele também é não negativo. Concluímos, assim, que b é positivo e, portanto (em virtude da definição de valor absoluto), que |b|=b. Sendo assim, nossa conclusão é que |r′–r|<|b|.
Agora, como a=bq+r e a=bq′+r′ concluímos que bq′+r′=bq+r. Manipulando algebricamente esta última igualdade, podemos chegar ao ponto de escrevê-la do seguinte modo:
r′−r=b(q−q′)
Agora, como a=bq+r e a=bq′+r′ concluímos que bq′+r′=bq+r. Manipulando algebricamente esta última igualdade, podemos chegar ao ponto de escrevê-la do seguinte modo:
r′−r=b(q−q′)
Da igualdade acima concluímos que a diferença r′−r é divisível por b (pois existe um inteiro t que quando multiplicado por b resulta em r′–r. Neste caso t=q−q′). Deste modo (em virtude do que nos diz o "resultado preliminar") se r′−r for diferente de zero, então a diferença |r′−r|−|b| será não negativa, ou seja, teremos |r′−r|−|b|≥0, donde segue que |r′−r|≥|b|. Mas esta última desigualdade é um absurdo (pois já vimos que |r′−r|<|b|). Como o absurdo decorre da hipótese de r′−r ser diferente de zero concluímos que ela deve ser falsa, isto é, tem que ser r′−r=0. Segue-se disto duas coisas: em primeiro lugar r′=r e, em segundo lugar, q′=q (a primeira consequência é evidente, a segunda decorre do fato de ser r′−r=b(q−q′); com efeito, colocando r′−r=0 nesta última igualdade vem b(q−q′)=0. Uma vez que se um produto é nulo um de seus fatores é, necessariamente, nulo e levando em conta que b não pode ser nulo (pois, por hipótese, é positivo) segue-se q−q′=0 e, por conseguinte, q′=q).
Observação: as demonstrações acima fazem uso de diversas propriedades dos conceitos de valor absoluto (ou módulo) e da relação de ordem <. Nesta exposição, supomos tudo isso conhecido, mas esperamos ter oportunidade futura de tratar sobre isso, aqui no BLOG MANTHANO.
Note que o algoritmo do modo como foi enunciado supõe b>0. Na próxima postagem da série ele será generalizado, mostrando-se que as mesmas conclusões valem nos casos em que b é negativo.
Referências: na última postagem da série.
Erros podem ser relatados aqui.
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