Em postagem anterior eu disse que os únicos polígonos que pavimentam o plano são o triângulo equilátero, o quadrado e o hexágono. Vamos tentar justificar isso agora.
Duas observações:
Pavimentar significa cobrir totalmente com encaixes perfeitos, ou seja, não sobra fresta (uma definição precisa de pavimentação poder ser vista na referência).
Aqui neste texto polígono é sinônimo de polígono regular.
Pavimentar significa cobrir totalmente com encaixes perfeitos, ou seja, não sobra fresta (uma definição precisa de pavimentação poder ser vista na referência).
Aqui neste texto polígono é sinônimo de polígono regular.
Comecemos olhando os três casos conhecidos para então provar que é impossível encontrar outro polígono regular com a mesma propriedade:
O que há em comum nos três casos? Observe os detalhes:
Agora observe o pentágono, que não pavimenta o plano:
As figuras apresentadas parecem ser suficientes para fazer perceber que:
Sendo x o número de lados de um polígono e α o ângulo interno deste polígono, se ele pavimenta o plano então α é divisor de 360º, ou seja, existe um número natural y tal que
y. α = 360º
(caso contrário, ou sobra ou falta polígono e, portanto, o encaixe não é perfeito, ou seja, o polígono não pavimenta o plano).
Acontece que o ângulo interno de um polígono pode ser dado pela seguinte fórmula:
Fazendo a substituição obtemos:
Tudo o que temos que fazer agora é encontrar quais são os valores de x e y que satisfazem a equação acima. Observe que ambos os valores devem ser, necessariamente, naturais.
Uma maneira de resolver é isolar o y do lado esquerdo:
Sabemos que x tem que ser natural (ou seja, inteiro positivo) e maior do que 2 (pois não existe polígono com menos de 3 lados) e sabemos também que y tem que ser natural (pois é a quantidade de polígonos que necessitam ser justapostas pra completar 360º).
Comecemos então a determinar os valores de y atribuindo valores para x:
Se x = 3 então:
Ora, a solução acima nós já conhecíamos.
Se x = 4 então:
Essa última solução nós também já conhecíamos.
Note que para x = 5, y não é natural, o que significa que o pentágono (como nós já sabíamos) não pavimenta.
Se x = 6 então:
Temos x e y naturais, mas também já sabíamos que o hexágono pavimenta.
Testando x = 7 obtemos y = 2,8 que não é natural, o que significa que o heptágono, assim como o pentágono, não pavimenta.
Testando x = 8 obtemos y = 2,666... que novamente não é natural, o que significa que o octógono, também não pavimenta.
Testando x = 9 obtemos y = 2,57... que também não é natural.
Testando x = 150 obtemos y = 2,027... E, aparentemente, não há mais números naturais que satisfazem a equação.
Conforme podemos perceber nos exemplos apresentados, na medida em que x vai aumentando o valor de y vai diminuindo (teste, por exemplo, o valor x = 1000).
É razoável supor então que se houver solução elas ocorrerão em y = 2 ou y = 1 (os únicos naturais menores do que 2,027...).
Mas acontece que nesta função, se y assumir estes valores (1 ou 2) então x não é natural (em um caso é negativo, noutro não existe):
Há outra maneira de chegar a esta conclusão (de que não há outros valores para x e y, ambos naturais, que satisfazem a condição).
Já verificamos que f(3) = 6, f(4) = 4 e f(6) = 3.
Agora, queremos provar que não existem k e k' naturais tal que f(k) = k'.
Vamos começar provando que a função assim definida é decrescente. Para tanto, vamos utilizar conhecimentos de cálculo diferencial e provar que f ’(x) < 0 para todo x no intervalo:
Observação: para derivar reescrevemos a função e usamos a regra do produto (um fator é o 2x e o outro é (x − 2)⁻¹).
Portanto, como f é decrescente resulta que para x > 6, y deve ser menor do que 3. Como y deve ser natural só restam k' = 1 ou k' = 2.
Porém, na medida em que x aumenta ilimitadamente f(x) se tornar arbitrariamente próxima de 2, mas nunca chega em 2 (como já tínhamos observado nos valores testados e como o gráfico sugere), ou seja:
Portanto não existe k (real e tampouco natural) para o qual f(k) = 2, logo também não existe k para o qual f(k) = 1 (pois f já foi provada decrescente e se não atinge 2 também não atinge 1, pois 2 > 1).
Há ainda uma terceira maneira muito simples de provar, vejamos como:
Basta notar que assim como x, tem que ser y ≥ 3. Então obtemos:
Ou seja, x só pode ser igual a 1, 2, 3, 4, 5 ou 6. No início já substituímos estes valores e verificamos que y natural só ocorre quando x = 6, x = 4 e x = 3 (ou seja, obtemos como esperávamos que os únicos polígonos que pavimentam são o hexágono, quadrado e triângulo).
Uma última observação: Para entender porque y ≥ 3 note que y é o número de polígonos que devem ser justapostos para "fechar" 360° no encontro dos ângulos. Observe que se y = 2 então os ângulo interno dos polígonos deverão valer 180º. Agora se pergunte: é possível que o ângulo interno de um polígono tenha 180°? A mesma impossibilidade ocorre se for y = 1.
Acredito que este texto ajudou a esclarecer o motivo pelo qual há apenas três polígonos que pavimentam o plano.
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Referência:
CASTRO, Rosiane de Fátima C. R. Pavimentações no Plano Euclidiano. 51 f. Monografia (Especialização em Matemática) - Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008. Acesso em 14 fev. 2011.
*Caso eles existam, apreciarei se erros de qualquer natureza (conceitual, de digitação, de escrita, matemáticos ou não) sejam apontados. Entre em contato aqui.
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Olá Pedro:
ResponderExcluirLi todo o trabalho e gostei bastante. Para o pessoal do último ano do Fundamental e do primeiro do Médio é uma aula espetacular.
Houve alguns "cochilos"; se não, vejamos:
6o. parágrafo:
Deveria pôr um vírgula após a palavra polígono
12o. parágrafo:
Em vez de: começamos, deveria ser: comecemos
24o. parágrafo:
Em vez de: satisfazem,deveria ser: satisfaçam
25o. parágrafo:
Em vez de: na medida em que, deveria ser: à medida que
28o. parágrafo:
Em vez de: satisfazem, deveria ser: satisfaçam
36o. parágrafo:
Em vez de: a medida em que, deveria ser: à medida que.
Abraços
Sebá
Olá Sebá. Obrigado por avisar dos meus "cochilos". Bom, no 6º parágrafo concordo que faltava uma vírgula; No 12º concordo que "comecemos" se encaixa melhor na frase; no 24º e no 28º acredito que não está errado o uso de "satisfazem"; no 25º e no 36º acredito que não está errado o uso de "na medida em que" (no 36º, preferi colocar um "n" antes do a em vez de colocar crase e tirar o "em"). De qualquer modo, se puder me justificar o motivo de eu estar errado nos pontos que eu não alterei, certamente farei as modificações! Abraço.
ResponderExcluirPedro R.
Olá Pedro,
ResponderExcluirSatisfazem (o verbo está na terceira pessoa do plural do presente do indicativo),que satisfaçam(o verbo está na terceira pessoa do plural do presente do subjuntivo).
À medida que é uma locução conjuntiva proporcional, logo, expressa ideia de proporção. Esta aí a explicação do por que essa expressão pode ser substituída por “à proporção que”. Uma oração que contenha “à medida que” é subordinada à principal e mantém uma comparação com a mesma de igualdade, de aumento ou diminuição. Confira:
a) À medida que nós subirmos, ficaremos mais cansados, porque o ar é rarefeito.
b) Ele foi se acalmando à medida que as boas notícias chegavam.
Na medida em que é uma locução conjuntiva causal, logo, haverá noções de causa/consequência ou efeito nas orações que tiverem tal expressão. Pode ser substituída pelas equivalentes “uma vez que”, “porque”, “visto que”, “já que” e “tendo em vista que”. Veja:
a) Nós precisamos ler mais na medida em que crescemos, pois temos maior entendimento ao passar dos anos. (visto que)
b) A pesquisa dever ser feita antes de dezembro na medida em que vamos estar de férias nesse período. (porque)
Portanto, se ficar em dúvidas, é só substituir as locuções por formas equivalentes e observar se a oração não perdeu o sentido pretendido.
Quanto às orações iniciais, as duas estão corretas gramaticalmente, mas, como vimos, possuem sentidos diferentes:
1. À medida que convivemos com pessoas, tornamo-nos mais maduros.
Ou: Tornamo-nos mais maduros à proporção que convivemos com pessoas.
2. Na medida em que convivemos com pessoas, tornamo-nos mais maduros.
Ou: Tornamo-nos mais maduros porque convivemos com pessoas.
Avise-me, por favor, do recebimento.
Abraços
Sebá
Gostei
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